O projeto de US$ 900 milhões será desenvolvido por um consórcio holandês que pretende aproveitar o grande potencial da região e irá aumentar em 25% a capacidade instalada do país, ajudando o governo a atingir a meta de ter novos 2.000 MW em apenas três anos
Uma área seca, rochosa e desértica, porém com ventos fortes e constantes no norte do Quênia foi o local escolhido para a instalação da maior usina eólica da África. Ao todo 353 turbinas eólicas gigantes, cada uma com capacidade de 850KW, irão produzir cerca 1.440 GWh por ano de eletricidade, um incremento de 25% à matriz energética do país.
O projeto no Lago de Turkana, conduzido por um consórcio holandês, custará cerca de US$ 900 milhões e, quando finalizado em 2012, terá capacidade de 300 MW. Com uma média de ventos de 11 metros por segundo, o consorcio Lake Turkana Wind Power (LTWP) diz que este é um dos melhores lugares do mundo para produzir energia eólica. A empresa estima que o potencial do local é de 2.700MW. No Brasil, por exemplo, a média anual de ventos chega a 9 metros por segundo no litoral dos estados do Maranhão, Piauí, Ceará e Rio Grande do Norte, regiões muito favoráveis para projetos eólicos.
As turbinas começarão a ser instaladas em 1º de julho de 2011, processo que deve ser finalizado somente em julho de 2012, já que serão colocadas em funcionamento uma por dia. A ligação à rede elétrica está prevista para ser realizada quando instalada a 15ª turbina. A logística será o maior desafio para finalizar o projeto, já que o local fica a 1,2 mil quilômetros de distância do porto de Mombasa, por onde chegarão as turbinas. A LTWP afirma que cerca de 200 quilômetros de rodovias terão que ser melhoradas e diversas pontes precisarão de reformas para o transporte das turbinas. Os custos, diz a empresa, estão incluídos no modelo financeiro do negócio. Para fornecer a energia a rede, serão necessários ainda 400 quilômetros de linhas de transmissão, o que está previsto para ser finalizado em junho de 2010.
Segundo o Estudo de Impacto Ambiental e Social feito pelo Banco de Desenvolvimento Africano, o projeto tem potencial de reduzir entre 565.920 a 1.264.320 toneladas de dióxido de carbono equivalente (CO2e), o que poderia ser convertido em créditos de carbono sob um projeto do Mecanismo de Desenvolvimento Limpo. As instalações mundiais de energia eólica geram hoje mais de 120,8 GW, equivalentes a nove vezes a capacidade instalada da Usina de Itaipu. Apenas em 2008 foram disponibilizadas mais de 27 GW, um crescimento de 28,8% em relação a 2007, e os EUA assumiu a liderança mundial no setor, com um total de 25,1 GW contra 23,9 GW da Alemanha.
Planos renováveis
Apesar do grande potencial africano para energias renováveis, com destaque para a eólica, solar e geotérmica, só agora ele parece estar aflorando. E o Quênia esta tentando liderar o caminho. Como o país é muito dependente da hidroeletricidade e o padrão de chuvas está bastante irregular, causando escassez de energia, o governo resolveu acelerar os planos de novos investimentos em projetos energéticos. A meta de aumentar em 2.000 MW a capacidade energética do país em 20 anos foi encurtada para apena três anos. Além da eólica, o governo irá investir em projetos geotérmicos, biocombustíveis, queima de resíduos sólidos e em usinas de carvão para chegar a este número em junho de 2012, disse o primeiro-ministro, Raila Odinga, ao jornal queniano Daily Nation.
O Ministério de Energia do país já identificou seis projetos geotérmicos, com capacidade total de 490 MW. Para financiá-los, o governo do Quênia irá buscar parcerias com o setor privado, o que deve reduzir ainda mais o tempo para construí-las. O potencial estimado de energia geotérmica no Vale de Great Rift é de 3.000 MW, porém o país explora apenas 200MW até agora. Para entrar em tais projetos, os investidores esperam os subsídios do governo, já que eles são necessários para tornar a energia renovável competitiva no país, segundo afirmou um representante da PricewatherhouseCoopers no Quênia, Kuria Muchiru, à Reuters. Segundo o jornal britânico Guardian, além do projeto eólico de Turkana, que é financiado pelo Banco de desenvolvimento Africano, investidores privados propuseram estabelecer um segundo projeto em Naivasha, uma cidade turística bem conhecida.
Renováveis na África
Até agora, somente países do norte africano como Marrocos e Egito utilizam energia eólica para fim comercial em qualquer escala no continente, segundo o Guardian. Mas os projetos começam a surgir no sul do Saara. A Etiópia já financia um projeto com capacidade de 120MW na região de Tigray, que fornecerá 15% da capacidade elétrica do país e a Tanzânia anunciou planos de gerar ao menos 100MW com dois projetos na região central de Singida, o qual fornecerá mais de 10% do suprimento nacional. Em março, a África do Sul, que tem sua matriz energética fortemente dependente do carvão, se tornou o primeiro país africano a anunciar tarifas feed-in de energia eólica, que consiste na venda de excedente de energia de pequenos produtores para a rede elétrica.
(Por Paula Scheidt, CarbonoBrasil, 04/08/2009)