Uma pesquisa encomendada pelo Partido Verde deu novo fôlego às negociações internas para uma eventual candidatura da senadora Marina Silva (PT-AC) à Presidência da República em 2010. A sondagem telefônica mostrou que a ex-ministra do Meio Ambiente teria, a depender dos cenários e dos demais candidatos ao cargo, entre 10% e 14% das intenções de voto. A rejeição ao nome de Marina, na pior hipótese tabulada, ficaria abaixo de 8%, apontou a pesquisa, realizada há 20 dias.
Os dados, considerados "surpreendentes", foram debatidos ao longo de quatro horas de reunião entre a senadora e a Executiva Nacional do PV na quarta-feira (29/07), em Brasília. "É uma supercandidata. Ela superou todas as nossas expectativas", avalia um membro da cúpula do PV. O levantamento teve margem de erro de 2,5 pontos percentuais.
Em maio de 2008, Marina saiu do ministério magoada com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Pressionada a alterar um pacote de "arrocho ambiental" imposto a produtores rurais, e preterida no comando do Plano Amazônia Sustentável, preferiu voltar ao Senado. De lá para cá, não teve afagos de Lula e trombou com o PT em temas controversos, como a lei de regularização fundiária na Amazônia.
A reunião da semana passada, acertada para servir como "análise aprofundada" do país e das "perspectivas de futuro", mostrou que a candidatura de Marina pelo PV tem "chances reais e competitivas de ganhar eleição". A senadora é identificada como "defensora da natureza", de "questões ambientais de extrema importância no longo prazo", e representaria uma "mudança nas práticas políticas", segundo a qualitativa. A boa imagem de Marina em temas ambientais destoa da opinião dos eleitores em relação aos dois principais candidatos ao Palácio do Planalto. A ministra Dilma Rousseff aparece, segundo a pesquisa, como uma alternativa "reativa" e "desenvolvimentista atrasada". O governador de São Paulo, José Serra (PSDB), é identificado à defesa "elitista da indústria paulista", apontou o levantamento.
Na estratégia do PV, a candidatura de Marina reforçaria um apelo ambientalista e poderia levar as eleições de 2010 ao segundo turno. "Quem discute esse tema ambiental somos nós. Essas candidaturas não respondem a isso", diz o dirigente verde. "Podemos, sim, levar essa eleição ao segundo turno. Aí, vamos discutir programa de governo para ter força não apenas na elaboração de propostas, mas para comandar o ministério e implementar a política ambiental correta".
Na avaliação dos integrantes da Executiva Nacional, a ex-ministra está "balançada" com a insistente corte do PV. Tanto que levou ao encontro da semana passada seu braço direito à época do ministério, o ambientalista João Paulo Capobianco. O PV avalia que Marina participará "ativamente" da elaboração de seu programa partidário. "Nesse momento, o que posso dizer é que aposto no processo e numa construção programática em conjunto com os verdes. Quanto ao resto, o futuro dirá", disse a senadora, à saída da reunião de quarta-feira.
Hoje (04), membros do partido devem voltar a conversar com Marina sobre o tema. Parte dos dirigentes tem pressa. "Não podemos ficar nessa até a última hora. O início de setembro seria uma boa data para resolver", avalia um deles. Pela Lei Eleitoral, Marina teria até 3 de outubro deste ano para mudar de partido. Mas os dirigentes do PV já estão preocupados com a reação do PT, aliado histórico dos verdes. "Eles (o PT) vêm para cima com tudo. Temos que segurar essa pressão e deixar a Marina fora dessa briga". As conversas da senadora com o PV devem continuar na próxima semana sob pretexto de "discussões programáticas" do partido para as eleições de 2010.
(Por Mauro Zanatta, Valor Econômico, 04/08/2009)