Por pelo menos dez anos a Índia não negociará a assinatura de compromissos legalmente impositivos prevendo cortes absolutos nas emissões de gases que provocam o efeito estufa, disse na sexta-feira (31/07) Jairam Ramesh, ministro do Ambiente do país. "Em 2020, é possível que discutamos uma meta limitada. Mas em 2009, de jeito nenhum." O endurecimento da posição de Nova Déli marca uma escalada na guerra de palavras em torno do aquecimento global que a Índia vem travando com o mundo desenvolvido às vésperas de cruciais negociações em Copenhague, em dezembro. O diálogo áspero não prenuncia sucesso para a conferência climática.
Tanto Índia como China estão insatisfeitas em relação ao que encaram como pressão ocidental para que se associem a um acordo mundial, ao passo que o mundo desenvolvido - com responsabilidade histórica pelo aquecimento global - não cumpriu suas próprias metas de emissões. Os países ocidentais estão tentando persuadir a Índia a aderir a um futuro com emissões de baixo teor de carbono e a não repetir os erros cometidos na sua corrida por industrialização. Hillary Clinton, secretária de Estado dos EUA, tentou recentemente convencer a Índia de que suas taxas de crescimento econômico não seriam comprometidas por emissões baixas de carbono. Ela ofereceu ajuda tecnológica.
Índia e China disseram que não aceitarão metas que exijam dos dois países que limitem suas emissões em curto a médio prazos, argumentando que suas economias em rápido crescimento não devem ser prejudicadas, tendo em vista terem sido os países ocidentais os responsáveis pelas mudanças climáticas."Estamos engajados [nessa luta] porque muitos países ocidentais não cumpriram suas obrigações e onde havia uma linha de referência acordada [sobre emissões] eles agora estão mudando tudo", afirmou Ramesh.
A oposição indiana a adotar reduções absolutas no nível das emissões de gases não necessariamente inviabiliza um acordo em Copenhague. Embora Índia e China tenham feito declarações públicas contrárias aos cortes nas emissões, seus comentários são contraditos pelo fato de que não se está pedindo aos países em desenvolvimento que assumam tais metas de redução.
Em vez disso, se por um lado os países ricos estão dispostos a implementar cortes em seus níveis de emissões, eles apenas esperam que os países pobres controlem o crescimento de suas emissões. Eles estão pedindo que as economias em rápido crescimento adotem programas de ação que, mesmo não pretendendo cortar emissões, assegurem que sua produção de gases-estufa cresça a uma taxa mais lenta do que se nada for feito - para "não deixar tudo como está".
(Por James Lamont e Fiona Harvey , Financial Times / Valor Econômico, 03/08/2009)