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indústria alimentícia câncer
2009-08-03

Para entidade, substâncias são potencialmente cancerígenas e elevam colesterol. Segundo toxicologistas, componentes não trazem problema a seres humanos nas quantidades consumidas; empresas dizem cumprir lei

A Pro Teste (Associação Brasileira de Defesa do Consumidor) avaliou nove maioneses e verificou que sete delas possuem um aditivo alimentar que considera prejudicial à saúde. Com exceção das versões tradicional e light da marca Liza, as demais possuem os antioxidantes BHA e BHT, usados para conservar os alimentos. As substâncias são adicionadas a produtos que têm gordura, como óleos vegetais, margarinas e molhos para salada.

Segundo a Pro Teste, pesquisas de um comitê ligado à Organização Mundial da Saúde mostram que o BHA tem efeito carcinogênico quando consumido em grandes quantidades e que o BHA e o BHT podem aumentar os níveis de colesterol e prejudicar a absorção das vitaminas A e D. Os estudos foram feitos com animais, que receberam grande quantidade dos aditivos, e a lei brasileira permite que eles sejam adicionados em pequenas quantidades -respeitadas nas maioneses testadas.

No entanto, a Pro Teste defende que os consumidores não devem ser expostos a esses antioxidantes e que eles deveriam ser trocados por outros, menos nocivos. "Se a Liza consegue usar outras substâncias, as outras marcas também deveriam fazer isso", diz Manuela Dias, nutricionista da entidade. Ela afirma que os estudos toxicológicos dessa natureza são realizados primariamente em animais e que seus resultados podem ser extrapolados para seres humanos.

Dias ressalta que isso não significa que as pessoas devam parar de comer maionese. "A mensagem não é que quem comer o alimento terá câncer. É que o aditivo é mais um fator carcinogênico que, somado a outros, pode desencadear a doença a longo prazo. As pessoas estão muito expostas hoje a diversos aditivos químicos por causa do maior consumo de alimentos industrializados", diz. Segundo ela, há uma recomendação na Europa para que o BHA e o BHT não sejam usados em alimentos infantis.

Dias lembra, ainda, que, apesar de nem sempre ser calórica, a maionese é feita à base de gordura. "Ela deve ser consumida de forma esporádica." Para Francisco Paumgartten, toxicologista e professor da Escola Nacional de Saúde Pública, nem sempre os estudos em animais podem ser extrapolados para seres humanos, principalmente pelo fato de as doses ministradas serem diferentes das consumidas no dia a dia.

Elizabeth Nascimento, professora de toxicologia da USP, diz que, se a Anvisa permite o uso desses antioxidantes, é porque eles não são nocivos. "A Anvisa cuidadosamente avalia o que pode estar presente nos alimentos. O risco é mínimo." Ela diz, no entanto, que é melhor evitar a exposição de crianças a aditivos em geral, pois elas ainda não têm desenvolvida a capacidade de absorvê-los e transformá-los em produtos mais facilmente eliminados pelo organismo.

Outro lado
A Unilever, detentora das marcas Hellmann's e Arisco, afirmou que desconhece a metodologia usada pela Pro Teste e não pode se posicionar sobre os resultados. Informa, ainda, que os produtos atendem às normas vigentes e que o emprego de aditivos justifica-se por razões tecnológicas, sanitárias, nutricionais ou sensoriais.

A Bunge Alimentos, que fabrica as maioneses Soya e Primor, afirma que o BHT e o BHA são internacionalmente utilizados e que as legislações levam em conta "estudos científicos sérios". A empresa diz desconhecer estudos que indiquem potencial cancerígeno para esses aditivos.

(Por Flávia Mantovani, Folha de S. Paulo, 03/08/2009)


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