Pesquisa publicada na revista Science cita exemplos de como a troca de equipamentos e a restrição da captura em determinados locais realmente são eficazes para a recuperação dos cardumes e ecossistemas
Vem do mundo da pesca uma notícia que deve servir de combustível para defensores do meio ambiente que possam estar desanimados com o andar dos acontecimentos ao redor do mundo e com as perspectivas de que ‘tudo está perdido’. Um estudo publicado nesta sexta-feira (31/07) na revista Science mostra que as ações para preservar cardumes e locais de pesca estão surtindo efeito, e que o cenário catastrófico, traçado há apenas três anos para esse setor, já começa a mudar.
“Rebuilding Global Fisheries”, resultado do esforço de dois anos de um time de cientistas de diversas instituições, mostra como alguns dos maiores locais de pesca do planeta estão se recuperando depois de medidas de restrição e conservação. Os pesquisadores afirmam que, se a pesca predatória for mantida sob controle, a conseqüência será a recuperação dos habitats dos peixes. Porém ressaltam que 63% das áreas de pesca do mundo ainda precisam ser recuperadas, e que menores taxas de exploração serão obrigatórias para reverter o colapso de espécies vulneráveis.
O estudo orienta que para a melhora dos ecossistemas são necessárias medidas como a restrição da captura, modificação dos equipamentos e até o fechamento da atividade em algumas regiões. “Em quase todos os casos nos quais a taxa de pesca foi reduzida a resposta do ecossistema foi positiva. Isto é o resultado principal do estudo. Ele simplesmente comprova que o gerenciamento da indústria da pesca funciona”, resumiu o cientista chefe do Serviço Nacional de Pesca Marítima, Steve Murawski. Para chegar a estas conclusões, os pesquisadores analisaram dados de cardumes, métodos de pesca, números da indústria e resultados de projeções. Eles estudaram ainda locais onde a pesca foi proibida, os equipamentos foram substituídos ou as medidas de preservação foram adotadas.
Regiões que estão vencendo a batalha contra a pesca predatória incluem partes do Estados Unidos, da Islândia e da Austrália. Porém na Europa, principalmente na Irlanda e no Mar do Norte, a pesca excessiva ainda está impedindo a recuperação dos cardumes. “A indústria presente nesses locais precisa seguir o mais rápido possível os exemplos de sucesso citados neste estudo. Nós precisamos ser mais velozes para recuperar as populações de peixes e os ecossistemas dos quais eles fazem parte, só assim a pesca e as comunidades que dependem dela poderão ter um futuro a longo prazo”, afirmou Pamela Mace, do ministério de Pesca da Nova Zelândia.
Bons exemplos
Uma das histórias bem sucedidas apresentadas pelo estudo vem do Quênia, onde cientistas têm trabalhado com pescadores tradicionais. A principal mudança lá foi a troca dos equipamentos, que eram ineficazes e capturavam todo tipo de peixe. Além disso, a comunidade se comprometeu a não pescar em determinada área. Assim ficou garantida a reprodução dos peixes, que logo voltaram a repovoar toda a região. “Essas medidas funcionaram excepcionalmente bem e em menos de 10 anos a renda de cada pescador da região praticamente dobrou”, relatou Boris Worm, da Universidade de Dalhousie, no Canadá.
O estudo revela que as medidas funcionam mais rápido em áreas que ainda não estejam muito degradadas, mas que de uma forma geral, todos os ecossistemas reagem bem diante das mudanças dos hábitos da pesca.
Controvérsia
Este novo estudo chega apenas três anos depois de uma outra pesquisa, também publicada na revista Science, que afirmava que se a pesca continuasse no ritmo em que estava, já em 2050 a maior parte das espécies comerciais de peixes estariam praticamente extintas. Mesmo na época houve bastante desacordo sobre os métodos utilizados na pesquisa, que é de autoria do próprio professor Worm. Ele mesmo reconhece que o atual estudo, do qual também faz parte, é muito mais embasado cientificamente, mas não descarta as conclusões do anterior. “O colapso de espécies que citamos ainda persiste. Há pesquisas que apontam que 14% das 170 espécies que foram estudadas estão hoje com menos de 10% dos seus números originais...e isto é o que se pode chamar de colapso da pesca”, finaliza Worm em entrevista a National Public Radio.
(Por Fabiano Ávila, CarbonoBrasil, 31/07/2009)