A dissidência liderada por José Rainha Júnior já reúne mais seguidores do que o próprio Movimento dos Sem-Terra (MST) no Estado de São Paulo. Com a adesão do Movimento dos Agricultores Sem-Terra (Mast) e de outras bandeiras menores, o grupo de Rainha soma quase 5 mil sem-terra em 48 acampamentos espalhados entre o Pontal do Paranapanema e a Alta Paulista, no oeste do Estado.
O número inclui acampamentos organizados por sindicatos de agricultores familiares e trabalhadores rurais que seguem o comando de Rainha. O MST contabiliza cerca de 2,5 mil acampados em terras paulistas. O grupo dissidente também controla a maioria dos assentamentos na região. A formação de uma frente unificada de luta pela reforma agrária será oficializada neste domingo (02/08) durante assembleia no Acampamento Adão Preto, no distrito de Engenheiro Taveira, em Araçatuba, a 532 km de São Paulo. O acampamento, criado no final de março, atraiu mais de mil sem-terra, segundo o líder. "Não tem outro com esse porte no Brasil", desafiou.
Entre os acampados estão cortadores de cana que perderam o emprego em razão da mecanização das lavouras e, segundo Rainha, sobretudo em decorrência da crise. "Muitos produtores quebraram e a cana está contribuindo para engrossar nossas fileiras." O plano é fortalecer a luta visando à desapropriação de áreas que se tornaram improdutivas. Proprietários que tiveram prejuízo com a cana estariam propensos a vender as terras.
A frente comandada pelo líder dissidente atua desde o ano passado e, só neste ano, foi responsável por 36 invasões de fazendas contra 8 do MST. Apesar da unificação, cada grupo manterá sua autonomia e as próprias bandeiras, segundo Rainha. Ele disse que a frente conta com aliados do MST. "A luta é conjunta e, na prática, a base do movimento está com a gente." O coordenador regional Valmir Rodrigues Chaves reconheceu a capacidade de arregimentação do ex-líder, mas disse que o MST segue apenas as diretrizes das coordenações estadual e nacional. "Quanto mais trabalhador for mobilizado, melhor para a reforma agrária."
Rainha vai anunciar o apoio dos sem-terra à candidatura da ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff, para a sucessão do presidente Luiz Inácio Lula da Silva nas eleições de 2010. "Entramos em campo para ajudar a eleger a ministra Dilma, pois ela vai dar sequência à reforma agrária." Na mira do grupo está o projeto do governador José Serra, provável candidato do PSDB, de regularização das terras do Pontal. "É a legitimação da grilagem", disse Rainha.
(Por José Maria Tomazela, O Estado de S.Paulo / IHUnisinos, 02/08/2009)