Um melhor aproveitamento da energia, com ações empregadas de forma consistente em diversas áreas e por todo o território, garantiria ao país ganhos financeiros e redução de até 1,1 gigatoneladas de gases do efeito estufa em 2020
Se medidas de eficiência energética fossem executadas em escala, em todos os setores e em uma abordagem holística, os Estados Unidos alcançariam uma economia de US$ 1,2 trilhões em 2020, aponta um estudo divulgado nesta quarta-feira (30) pela consultoria internacional McKinsey. A pesquisa “Unlocking Energy Efficiency in the U.S. Economy” afirma que a eficiência energética é uma fonte vasta e com baixos custos para a economia dos EUA e que poderia promover uma redução de 4,1 quadrilhões de BTUs (unidade térmica britânica), o equivale a 23% do consumo final de energia no país. Isto teria o potencial de abater até 1,1 gigatoneladas de gases do efeito estufa.
Para isso, contudo, o país teria que investir US$ 520 bilhões para ultrapassar barreiras estruturais, comportamentais e de disponibilidade em diferentes níveis para que a eficiência energética chegue a mais de 100 milhões de edifícios e literalmente bilhões de máquinas espalhadas por todos os estados. As barreiras estruturais são aquelas relacionadas às opções de serviços e produtos para o usuário final, como por exemplo, um locatário que pudesse escolher o sistema de calefação para a sua residência, o que hoje não é possível no país. As barreiras comportamentais estão ligadas a falta de conhecimento ou a inércia dos indivíduos e empresas, como por exemplo, um gerente de uma loja que troca lâmpadas queimadas por outras mais baratas ao invés de optar por aquelas mais eficientes. Já as barreiras relacionadas com a disponibilidade são aquelas na qual o usuário final tem a vontade de agir, porém não têm condições de fazê-lo, por falta de capital por exemplo.
O relatório, produzido em conjunto com empresas, especialistas industriais, agências governamentais e ONGs, faz uma análise detalhada do enorme potencial da eficiência no consumo energético nos EUA, excluindo o setor de transportes, e apresenta soluções práticas e já disponíveis para aproveitá-lo. O estudo recomenda agir em quatro frentes: aumentar informações e a educação sobre o consumo energético (incluindo campanhas educativas e esquemas de selos para edifícios); oferecer incentivos e financiamentos (desde descontos fiscais até preços sobre o carbono); criar códigos e padrões (principalmente para lidar com setores na qual o usuário final não está muito atento a esta questão), e melhorar o envolvimento público-privado. Segundo o estudo, 35% do potencial está no setor residencial; 40%, no industrial e 25%, no comercial.
Custos
Porém nada virá sem grandes investimentos. Para aproveitar todo o potencial identificado, o relatório sugere serem necessários US$ 50 bilhões por ano por cerca de uma década, quatro a cinco vezes o que foi investido em 2008. O pacote de estimulo econômico aprovado pela Administração Obama em fevereiro está bem aquém deste valor, prevendo gastos de US$ 10 a US$ 15 bilhões com eficiência energética.
O comprometimento nacional é essencial para aproveitar todo o potencial de eficiência no país, afirma o estudo, empregando estratégias para reconhecê-la como uma fonte de energia importante que pode ajudar o país a alcançar a demanda futura; formular e lançar portfólios com experiências a nível nacional e regional que tenham sido provadas eficazes; identificar modos de conseguir os fundos necessários para qualquer plano nesta área; trabalhar junto a reguladoras, fornecedoras, agencias do governo, fábricas e consumidores; e promover a inovação no desenvolvimento e uso de tecnologias de última geração que promovam a eficiência energética para garantir ganhos na produtividade.
Teoria e prática
Apesar dos benefícios serem, na teoria, tão promissores, o especialista em energia da Universidade da Califórnia, David G. Victor, faz um alerta em entrevista para o jornal New York Times. “É muito, muito difícil atingir todo este potencial no mundo real”, comentou, ressaltando ainda não ter visto o relatório. Segundo Victor, atingir uma economia de US$ 1 trilhão exigiria a mudança de comportamento de muitas pessoas e de muitas organizações complexas. O relatório não incluiu os potenciais benefícios ambientais do corte energético, nem levou em conta os possíveis custos com as emissões de gases do efeito estufa, que possivelmente terão limites sob a legislação climática que está em tramitação no Congresso, e poderia trazer mais ganhos com a eficiência.
(Por Paula Scheidt, CarbonoBrasil, 30/07/2009)