Cerca de 40 negros descendentes de quilombolas, participantes do evento Diálogos Quilombolas no Sul, visitaram ontem a exposição 'Arte na França 1860 –1960: O Realismo', no Margs, acompanhados por representantes da Secretaria de Justiça e Desenvolvimento Social e do antropólogo Ricardo Fernandes, coordenador do grupo de trabalho sobre quilombolas da Associação Brasileira de Antropologia.
Para Davson Pereira, residente no bairro Glória, os quadros que mais chamaram atenção não foram os franceses, mas os pintados por Di Cavalcanti. 'Nessas pinturas, fica clara a influência da cultura afro', destacou. Ele conta que sua avó nasceu em uma família de escravos e fugiu da situação opressiva, o que a caracteriza como quilombola. Ele hoje trabalha como segurança e mora na Estrada dos Alpes, na mesma região onde sua avó se refugiou, junto a 75 famílias. Claudino Dornélio da Silva, residente em um quilombo na Região de Mostardas, conta que sua avó era filha de uma escrava com um fazendeiro e herdou uma fazenda onde hoje vivem 32 famílias. 'Lá nós praticamos agricultura de subsistência. Plantamos milho, feijão, batata doce, mandioca', descreveu. Clarice Tomás, de Santa Rosa, afirma a importância de resgatar a cultura negra. Ela caracteriza a visita como indescritível. 'Adoro arte e costumo me manter informada sobre o assunto', ressaltou.
De acordo com Ricardo Fernandes, ser quilombola é lutar para construir espaços de liberdade, batalha associada ao histórico de escravidão. 'Hoje temos uma legislação federal que tem promovido uma guinada étnica em todo o país, para uma maior valorização da diversidade cultural brasileira', enfatizou. O acadêmico estima que haja 4 mil comunidades desse tipo no Brasil, o que corresponde a aproximadamente 3 milhões de pessoas. Cerca de 5% do território nacional é de quilombos. 'Em suas terras, eles procuram uma integração com a natureza, produzindo, por exemplo, alimentos sem agrotóxicos. Isso nem sempre é possível, por conta da degradação ambiental', conclui.
(Correio do Povo, 21/07/2009)