O problema é que a área em questão, pertencente ao Banco Central, está sob a mira de construtoras de prédios que disputam sua posse
Transformar um grande descampado em um pulmão verde. Essa é a intenção de alguns moradores do Setor Octogonal Sul em relação a uma área de 60 mil metros quadrados localizada na Quadra 3 da cidade. De propriedade do Banco Central, o terreno é destinado à criação da última quadra do bairro, ou seja, novos prédios devem ser erguidos no local. Em uma tentativa de evitar que isso aconteça, a comunidade fez um abaixo-assinado com três mil adesões. Eles sugerem que o espaço seja transformado, por meio de permuta, em um parque ecológico-cultural, que terá centenas de árvores do cerrado e um viveiro de plantas exóticas, entre outras opções de preservação do meio ambiente. “A gente precisa pensar nas gerações futuras. Esse parque seria muito importante para ajudar a renovar o ar e atrair pássaros, sem contar que proporcionará atividades de lazer para a comunidade”, explicou o presidente da Associação de Moradores e Amigos da Quadra 3, Renato Botaro.
Porém, o sucesso de tão boa ideia depende da intenção do Banco Central de abrir mão da área. Mesmo sem respostas concretas, os moradores têm arregaçado as mangas para transformar o projeto em realidade. Em dezembro do ano passado, eles começaram a plantar árvores como ipê-amarelo, flamboyant, jacarandá-mimoso e o jambo-rosa. Um miniviveiro com 300 mudas também é cultivado no local. “Estamos próximos à EPTG e muitos carros passam por ela. A arborização é uma forma de ajudar a reduzir os gases poluentes”, avalia Renato Botaro.
Para fazer do local uma espécie de bosque no meio da cidade, a associação, há dois anos, criou uma espécie de alimentador de pássaros próximo à área visada para se transformar em parque ecológico. “Tem sabiá, joão-de-barro, bem-te-vi, pássaro-preto, canário… E até tucano aparece de vez em quando”, garantiu o morador Vernon de Oliveira, 65 anos. Ele é o responsável por colocar duas vezes na semana comida no “refeitório” das aves. “Acordar com o canto dos pássaros é maravilhoso. Dá a impressão de que moramos em um bosque mesmo”, acrescentou Vernon.
Qualidade de vida
Caso o projeto do parque saia do papel, cerca de 13 mil moradores de Octogonal, Sudoeste e Cruzeiro serão beneficiados. “A gente terá um espaço para caminhar, passear com a família. Para quem tem filho pequeno, será uma maravilha, porque é uma opção de lazer”, defendeu a servidora pública aposentada Gláucia Maria Pádua Carvalhais. “A nossa preocupação é com a qualidade de vida. Brasília não é uma cidade fria. Tem muito verde, mas falta preservar”, destacou a professora Marta Jabuonski, 58 anos.
Para que o sonho da comunidade se torne realidade, entretanto, é preciso haver interesse do Banco Central. “Eu não vejo nenhuma possibilidade de isso acontecer porque no ano passado conversei com alguns diretores e eles me disseram que R$ 300 milhões estão em jogo. Mas se eles (moradores) conseguirem mais um pedaço de área verde para a cidade, ótimo; só que o terreno é do Banco Central e isso é uma decisão deles”, avaliou o administrador regional de Sudoeste, Nilo Cerqueira. Segundo ele, o terreno está sub judice em razão de um processo de licitação onde as empresas interessadas brigam pela posse da área.
(Por Mara Puljiz, Correio Braziliense, 30/07/2009)