O engenheiro de pesca José Bonifácio Valgueiro de Carvalho, produtor de alevinos em Propriá (SE) e membro do Comitê da Bacia Hidrográfica do São Francisco, disse que, na sua região, o impacto de uma redução da descarga de Sobradinho para até 700 m3/s "vai ser terrível". Carvalho prevê que a resistência do rio à entrada das marés pela foz, que já está baixa, vai diminuir a ponto de tornar inviável a captação de água doce nos municípios mais próximos à foz, como Piaçabuçu e Penedo, em Alagoas, e Brejo Grande e Neópolis, em Sergipe. Segundo ele, atualmente já é possível pescar siri, crustáceo de água salgada, em Propriá, a 60 quilômetros da foz.
"Já acho a cota mínima de 1.300 m3/s péssima. Abaixo disso é uma loucura", reclama. Ele avalia que os trabalhos de correção das adutoras para não prejudicar o abastecimento de cidades como Aracaju, capital do Estado, será caro e demorado e lembra que o problema será potencializado pelo canal de transposição das águas do São Francisco para o Nordeste setentrional. Segundo o ONS, a vazão de 26 m3/s do canal da transposição já está prevista nos cálculos da proposta de baixar a vazão mínima do rio.
Antônio Gomes dos Santos, representante da Federação dos Pescadores do Estado de Alagoas no Comitê da Bacia do São Francisco, disse que "não só a pesca como qualquer outro trabalho" no rio será prejudicado por uma eventual mudança na vazão mínima. Segundo ele, com 1.300 m3/s "o rio já fica seco e não dá para manejar nem embarcações pequenas". Santos ressaltou a necessidade de muita discussão sobre o problema. Morador do município de Penedo (AL), ele disse que a pesca no São Francisco está cada vez mais difícil e reclamou das iniciativas de estimular a piscicultura com peixes exóticos no rio: "Só está piorando".
Outro a reclamar da possível redução do nível das águas do São Francisco foi o Antônio Laurindo dos Santos, representante da Associação dos Proprietários e Condutores de Barcos da Ilha do Rodeador (Juazeiro-BA) no comitê . Segundo ele, algumas embarcações maiores já precisam que a Chesf solte um pouco mais de água para navegar de Sobradinho a Juazeiro, mesmo com 1.300 m3s . "Com 800 ou 900 (m3/s) vai ser impossível navegar", prevê.
Mais comedido, o secretário de Meio Ambiente do Estado da Bahia, Juliano Souza Matos, vice-presidente do Comitê da Bacia do São Francisco, disse que por enquanto o comitê só tem conhecimento informal da proposta e que será necessário levá-la a plenário para uma tomada de posição. Para Mattos, é necessário "assegurar uma vazão ecológica, de modo a assegurar a qualidade dos ecossistemas do rio". Segundo ele, não é possível "atender a uma demanda para energia com prejuízo para outros usos do rio".
(Por Chico Santos, Valor Econômico, 30/07/2009)