A deputada Janete de Sá (PMN) está convocando os agricultores com alguma experiência de contaminação ou de mutilação a que denunciem seus casos à CPI do Agrotóxico, prorrogada pela segunda vez. A intenção da convocação é agregar à investigação fatos concretos dos danos causados pelos agrotóxicos no Estado. Para a investigação, são válidos casos de envenenamento, suicídio, mutilação e contaminação por venenos agrícolas, e os casos poderão ser denunciados até meados de agosto, através de janetedesa@al.es.gov.br
Esta será a primeira vez que a CPI irá ouvir as vítimas de veneno agrícola. Os agricultores capixabas, os maiores prejudicados pelos venenos, prometeram revelar à comissão parte dos horrores que vivenciam no Estado, mas ainda não foram ouvidos. Neste contexto, a CPI agora está convocando as vítimas para denunciar seus casos. A informação é que uma investigação vem sendo desenvolvida na região de Santa Maria e Santa Leopoldina para avaliar os casos de contaminação.
Criada para apurar irregularidades com danos à vida humana e ao meio ambiente geradas pelos venenos, após duas prorrogações, pouco foi apresentado até o momento sobre as investigações da CPI do Agrotóxico. Desde seu início, além das reuniões ordinárias, a CPI se limitou a pedir informações sobre quais empresas e pessoas prestam serviços ao recolhimento de vasilhames de produtos químicos, solicitar órgãos públicos as relações de contaminação por venenos e praticamente ouvir a opinião da Ceasa sobre os alimentos vendidos e, neste contexto, recebe diariamente críticas do setor ambientalistas e rural no Estado.
Segundo o Movimento dos Pequenos Agricultores (MPA), além de afetar diretamente a saúde de quem manuseia o agrotóxico, o uso destes venenos contamina o alimento da população, levando para dentro da casa dos capixabas inúmeros riscos de doenças. No Espírito Santo existem relatos de crianças nascidas com deformações pelo uso dos venenos agrícolas. Os agrotóxicos também provocam mortes por doenças como cânceres. Muitos agricultores que aplicam os agrotóxicos se tornam impotentes sexuais, ficam deprimidos e se matam. Os venenos também afetam a sexualidade das mulheres, provocando frigidez.
Motivou a criação da CPI a confirmação, pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), de que o Espírito Santo é o estado que mais usa herbicidas no País. Se forem considerados todos os agrotóxicos – fungicidas, herbicidas, bactericidas, inseticidas, acaricidas, entre outros –, é o segundo do País no uso dos venenos agrícolas.
Os dados foram divulgados no documento "Indicadores de Desenvolvimento Sustentável - Brasil 2008". Os herbicidas são empregados para combater o que as empresas chamam de ervas daninhas nas lavouras. Em 2005, em cada hectare (área com 10 mil metros quadrados, equivalente a um campo de futebol) do Espírito Santo as empresas e os fazendeiros usaram 3,7 kg de herbicida. A quantidade tornou o Estado campeão brasileiro no uso de herbicidas.
No conjunto do uso dos agrotóxicos, o Espírito Santo, com o uso de 4,7 quilos por hectare, fica atrás apenas de São Paulo, que consome 7,7 quilos por hectare, média de 2005. Neste ano, a média nacional foi de 3,2 quilos de agrotóxicos por hectare. A CPI dos Agrotóxicos da Ales tem como vice-presidente o deputado Wanildo Sarnáglia (PTdoB) e, como membros efetivos, os deputados Dary Pagung (PRP) e Vandinho Leite (PR).
(Por Flavia Bernardes, Século Diário, 29/07/2009)