Em parceria com a Epagri, a UFSC investiga mais uma atividade para a maricultura catarinense. É o cultivo da alga vermelha Kappaphycus alvarezii, comercialmente importante por ser a principal fonte de carragenana, aditivo extensamente empregado nas indústrias alimentícia, de cosméticos e farmacêutica. O Brasil importa mais de mil toneladas de carragenana por ano, o que representa cerca de R$13 milhões.
Nativa das Filipinas, a alga Kappaphycus alvarezii teve seu primeiro cultivo experimental no Brasil realizado em São Paulo. Em Santa Catarina testes estão sendo realizados desde 2008, em um cultivo experimental implantado na praia de Sambaqui, em Florianópolis. Dados preliminares indicam que o estado tem bom potencial para trabalho com a espécie. O cultivo é realizado a partir de pedaços de talo, amarrados em cabos mantidos em sistemas flutuantes, como balsas ou long-lines usados na produção de ostras e mexilhões.
O projeto em Santa Catarina envolve pesquisadores da UFSC, Universidade de São Paulo (USP), Epagri e Instituto de Pesca de São Paulo. A Fundação de Apoio à Pesquisa Científica e Tecnológica do Estado de Santa Catarina (Fapesc) financiou a primeira etapa do projeto e na segunda etapa são investidos recursos do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e do Ministério da Pesca e Aquicultura (MPA).
“A segunda etapa do projeto vai avaliar o ciclo produtivo dessa alga procurando estabelecer metodologias que viabilizem a introdução comercial no litoral catarinense”, informa a coordenadora do projeto e professora do Centro de Ciências Biológicas da UFSC, Zenilda L. Bouzon.
“A expectativa é tornar o Brasil independente das importações”, complementa a pesquisadora Leila Hayashi, que trabalhou com a espécie em sua tese de doutorado e foi convidada a atuar como pesquisadora visitante na UFSC, dando continuidade aos estudos com a Kappaphycus alvarezii. Ela alerta, no entanto, para uma divulgação cuidadosa do potencial desse cultivo em Santa Catarina.
“Até agora os resultados são positivos e mostram que a espécie se adapta bem às condições do litoral de Santa Catarina. Mas ainda estamos em fase de estudos”, deixa bem claro Leila. Segundo ela, os estudos buscam tecnologia para cultivo sustentado da espécie e a seleção de linhagens mais produtivas, para produção de carragenana de qualidade. Há também investigações para desenvolvimento de tecnologia para secagem da alga, já que em Florianópolis a ocorrência de chuvas complica esse processo.
Além disso, as pesquisas buscam tecnologia que garanta um cultivo seguro da alga. Isso porque uma das vantagens da espécie, seu rápido ciclo de crescimento (cerca de 45 dias), é também um risco à propagação descontrolada. Espécie exótica originária das Filipinas, o manuseio da Kappaphycus alvarezii exige controle para que se evite a chamada contaminação biológica (quando uma espécie exótica se prolifera descontroladamente).
Leila participou de estudos que deram suporte à elaboração de uma estrutura normativa para regulamentação do cultivo dessa espécie de alga no país. Segundo ela, as perspectivas para o litoral brasileiro dependem um programa estratégico que contemple estudos do ciclo produtivo, processamento e comercialização. Somente com esse suporte serão recomendados cultivos comerciais.
Mais informações: Leila Hayashi, e-mail: leilahayashi@hotmail.com, fone: 3721 5149
Saiba mais
- Segundo dados da Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO), a produção mundial de algas produtoras de carragenanas em 2007, proveniente principalmente dos cultivos de Kappaphycus e Eucheuma das Filipinas, Indonésia e Tanzânia, atingem a cifra anual de 1.587.117 toneladas, rendendo aproximadamente US$ 175 milhões. A produção da indústria de carragenana excedeu 50 mil toneladas entre 2007 e 2008, com um valor superior a US$ 600 milhões, excluindo a produção da China (http://www.seaweed.ie/uses_general/carrageenans.lasso, consultado em 26 de abril de 2009).
- As populações naturais de algas produtoras de carragenanas têm se mostrado insuficientes para atender a demanda de consumo, e a exploração tem levado a um rápido declínio dos bancos naturais.
- O cultivo de algas, efetuado em escala extensiva no mar (cultivo comercial), é considerado uma das únicas alternativas para satisfazer a demanda crescente de matéria-prima, principalmente para a produção de ficocolóides (gels de macroalgas), uma vez que os estoques naturais são insuficientes.
- A maricultura de macroalgas está se tornando cada vez mais popular por resultar em menos impacto ambiental e degradação, ao invés da colheita escontrolada de populações selvagens. Atualmente, a maior parte das algas usadas para a produção de carragenana é proveniente de cultivos.
- O cultivo de macroalgas marinhas é uma tradição nos países orientais, principalmente no Japão, na China e na Coréia. Um exemplo bem-sucedido é o cultivo da alga vermelha Porphyra C. Agardh que se estabeleceu aproximadamente há 300 anos no Japão e atualmente abrange 60 mil hectares, empregando 10 mil famílias e estendendo-se para a China e a Coréia.
- A República das Filipinas é o país maior produtor mundial de carragenana, seguido por Indonésia e Tanzânia.
- Há cerca de três décadas, outras espécies começaram a ser cultivadas, como a alga verde Monostroma Thuret e as algas pardas Undaria Suringar e Laminaria J.V. Lamouroux, entre outras, no Japão e na China, e as carragenófitas Eucheuma J. Agardh e Kappaphycus Doty, nas Filipinas.
- Na América Latina, cultivos comerciais em larga escala, principalmente de Gracilaria Greville, são realizados apenas no Chile, embora cultivos em escala piloto sejam desenvolvidos em Cuba, na Venezuela e no Brasil.
- Experimentos de cultivo de algas marinhas têm sido realizados no Brasil, nos estados de Santa Catarina, São Paulo, Rio de Janeiro, Espírito Santo, Bahia, Paraíba, Rio Grande do Norte e Ceará, estimulados pela demanda e mercado de agaranas e carragenanas.
- Desafios: Os cultivos são desenvolvidos com baixos custos de capital inicial e operacional e com mão-de-obra pouco especializada. As algas secas, consequentemente, são comercializadas a baixos preços, sendo este o principal problema referido pelos produtores. O material bruto é avaliado e diferenciado pelo conteúdo e pela qualidade da carragenana, e não apenas pela alga vendida por peso. Quanto melhor a qualidade da carragenana, maior será o valor da planta.
(Por Arley Reis, Agecom, 27/07/2009)