A revista "National Geographic" contratou Louie Psihoyos como fotógrafo assim que ele concluiu a faculdade. Quando ele aprendeu a mergulhar e a fazer fotos debaixo de água, sua admiração pela inteligência e beleza dos golfinhos só cresceu. Mas nada disso o preparou para a experiência de dirigir "The Cove" (A enseada), documentário premiado sobre a matança clandestina de golfinhos no Japão. O filme estreia nos EUA esta semana. É o primeiro trabalho de Psihoyos na direção, e tudo a seu respeito foi um desafio para ele, desde o tema até as técnicas escondidas usadas para obter imagens que, nas palavras do diretor, vão desde "belíssimas até arrasadoramente tristes".
"The Cove" é um documentário não convencional, dotado do drama que se poderia esperar de um filme de ação. E, pelo fato de conter imagens explícitas de matanças em massa de uma espécie animal pela qual os humanos nutrem afeição, parece destinado a suscitar controvérsia.
É exatamente isso que Psihoyos, 52, tinha em mente. "O que eu me propus a fazer foi não tanto criar um filme quanto lançar um movimento", disse ele desde seu escritório em Boulder, Colorado (EUA). "O filme é uma ferramenta para acabarmos com a barbárie que vimos naquela enseada."
A caça comercial às baleias é proibida em todo o mundo desde os anos 1980, mas a proibição não foi estendida aos cetáceos (mamíferos marinhos) menores, como os golfinhos -sobretudo devido à oposição do Japão. Graças a isso, cerca de 21 mil golfinhos por ano, estima o governo japonês, são mortos em lugares como Taiji, pequena cidade litorânea ao sul de Osaka onde foi rodada a maior parte de "The Cove".
Parte das imagens filmadas por Psihoyos mostra pescadores tentando bloquear suas câmeras e intimidar a equipe de filmagem. Os pescadores parecem temer que, se as cenas de sua sangrenta colheita anual -feita para finalidades alimentícias e para o que o país chama de "controle de pragas"- forem divulgadas, o público japonês e mundial ficará tão horrorizado que exigirá o fim do massacre.
Além dos golfinhos, "The Cove" tem um personagem humano principal: Ric O'Barry, treinador dos cinco golfinhos usados para fazer o papel de Flipper no seriado de TV dos anos 1960. O'Barry se tornou ambientalista convicto e hoje é especialista em mamíferos marinhos do Instituto Earth Island, na Califórnia, e líder da coalizão Salvem os Golfinhos do Japão. O'Barry, 68, é um herói que tem falhas confessas. Não se contenta em ser simplesmente defensor ardente de sua causa: já se confessou obcecado por ela. Já foi preso por libertar golfinhos de um parque nas Bahamas. "Acho que o filme é justo, porque eu sou mesmo um pouco maluco", disse ele. "Eu foco como um raio laser sobre a questão dos golfinhos em cativeiro, porque eu mesmo ajudei a criar esse problema."
Mas acabar com a matança em massa de golfinhos para fins comerciais não é a única meta de "The Cove". O'Barry espera que as cenas rodadas em Taiji -mostrando o que ele afirma ser representantes de parques de diversões marinhas escolhendo jovens golfinhos fêmeas para serem comprados, treinados e exibidos- também fará a opinião pública voltar-se contra o uso de animais para entretenimento.
Marilee Menbard, diretora da Aliança de Parques com Mamíferos Marinhos e Aquários, grupo comercial que representa mais de 50 desses estabelecimentos, disse: "A desinformação presente no filme é devastadora". Ela acrescentou que os membros de seu grupo "condenam essas práticas. Não temos nenhum desses animais do Japão em nossos parques".
(Por Larry Rohter, The New York Times / Folha de S. Paulo, 27/07/2009)