A Europa produz cada vez mais lixo e o tratamento e eliminação desse material, sem prejudicar o ambiente, está se tornando uma enorme "dor de cabeça" para os governos do continente. A situação chega ao ponto de a Comissão Europeia, braço executivo da UE, alertar que os 27 países-membros precisam rever seus "padrões insustentáveis" de consumo e produção "se quisermos evitar ser submersos por lixo".
O Reino Unido, denunciado na semana passada pelo Brasil no Secretariado da Convenção de Basileia pelo tráfico de resíduos perigosos, é um dos países europeus com pior tratamento de detritos. O caso com o Brasil começou após lixo britânico começar a ser encontrado em território brasileiro no fim do mês passado. Armazenada em 89 contêineres distribuídos nos Portos de Santos (SP) e de Rio Grande (RS) e em uma estação alfandegária de Caxias do Sul (RS), a mercadoria importada como plástico para reciclagem na verdade tem mais de 1,7 mil toneladas de lixo doméstico e hospitalar.
Na Europa, cada homem, mulher e criança produzia 460 kg de resíduos urbanos em 1995. Essa relação passou para 520 kg em 2004 e a projeção é de alcançar 680 kg por pessoa até 2020, diante da alta do consumo. A Organização de Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), reunindo 30 países, desde os mais ricos aos remediados como México e Coreia do Sul, estima que a geração de lixo urbano entre seus membros vai crescer 35% entre 2005 e 2030, representando 800 milhões de toneladas por ano.
"A dor de cabeça sobre o que fazer com o lixo é evidente porque ninguém quer ter aterro sanitário ou incinerador perto de sua casa", afirma a OCDE. "Os EUA produzem muito lixo, mas têm muita terra barata e dá para ter aterros. Mas isso é impossível hoje no Japão ou Dinamarca."
Do lixo atual nos países da OCDE, que incluem os europeus, cerca da metade vai para aterros sanitários, 30% são reciclados e 20% incinerados. Os governos tentam impulsionar programas para que a reciclagem chegue a 40% em 2030. A União Europeia estabeleceu uma diretriz as seus 27 países-membros para reduzir o uso de aterros sanitários, que são a pior forma ambiental de se desembaraçar de detritos.
O Reino Unido faz um "trabalho ruim", de acordo com ONGs, no que fazer com os detritos comparado a outros países europeus, incluindo os novos do leste. Os britânicos dependem muito mais de aterros sanitários, a pior forma ambiental de se livrar do lixo. Não tem comparação com o desempenho da Alemanha e Suécia, países que reciclam bastante. Segundo estudo publicado em Londres, o Reino Unido pode sofrer perdas de centenas de milhões de dólares a partir do ano que vem com multas aplicadas pela UE pelo desrespeito às diretivas europeias e também pela falta de reciclagem de materiais interessantes para certos setores industriais.
Na Europa, o comércio de imundícies chegou às manchetes ano passado com a crise em Nápoles, na Itália, onde a Máfia controlava o setor. O governo italiano acabou construindo um incinerador em Nápoles, mas a cidade continua acumulando lixo nas ruas.
(Por Assis Moreira, Valor Econômico, 27/07/2009)