Filtros colados em acessórios serão utilizados em estudo da USP. Objetivo é verificar impacto da poluição na saúde de voluntários
Crachás com filtros colados serão usados em um estudo realizado por médicos da Universidade de São Paulo (USP) para medir a exposição de 400 grávidas e 50 crianças aos poluentes na capital paulista. A intenção dos pesquisadores é determinar o grau de poluição a que o voluntário é exposto ao longo do dia e saber qual o impacto em sua saúde.
Uma equipe do Laboratório de Poluição da USP desenvolveu o crachá. Além dele, um cabide com três filtros presos em caixinhas de filmes fotográficos irá medir a diferença da poluição dentro e fora das residências. “É legal para ver o quanto da poluição entra nas casas”, diz a médica Sandra Vieira, do Departamento de Pediatria da Faculdade de Medicina da USP, uma das coordenadoras do estudo.
A primeira parte da pesquisa começa em agosto. Foram selecionadas 50 crianças entre 5 e 10 anos. Metade delas mora em casas próximas à Rodovia Raposo Tavares e as outras no mesmo bairro, mas em residências mais afastadas da estrada. Elas carregarão os crachás pendurados nas mochilas – os pesquisadores avaliaram que, assim, haveria menos risco de perda. Os cabides com os filtros também serão pendurados dentro e fora dos imóveis.
“Uma das coisas que a gente acha que vai conseguir mostrar é a diferença da função pulmonar das crianças que moram perto e longe da rodovia”, afirma Sandra. Elas passarão por testes de função pulmonar no início do estudo e depois de seis meses. Essa primeira pesquisa servirá, também, para testar os equipamentos desenvolvidos pelo laboratório da USP.
Estudo com grávidas
Depois de confirmado que os crachás e os cabides são os instrumentos ideais para esse tipo de pesquisa, começará o estudo com grávidas – provavelmente, até o fim deste ano. Quatrocentas mulheres até o terceiro mês de gestação serão selecionadas em Unidades Básicas de Saúde (UBS) da região do Butantã, na Zona Oeste de São Paulo.
“A hipótese é que a exposição que a grávida tem durante os meses de gestação já pode fazer o pulmão não ser tão bom, o que vai se refletir em sintomas respiratórios”, diz Sandra. Depois que a criança nascer, o acompanhamento seguirá. Inicialmente, os pesquisadores têm financiamento para acompanhar os bebês até o segundo ano de vida.
“A ideia é estudar o efeito que vai ter essa exposição nessa fase de desenvolvimento rápido, o que pode ter repercussão para a vida inteira”, afirma a pediatra. Os partos ocorrerão no Hospital Universitário da USP, e os bebês serão submetidos a um teste de função pulmonar. A pesquisa prevê a repetição do teste no primeiro e segundo anos de vida.
Objetos para estudo
A equipe da biomédica Míriam Lemos, do Laboratório de Poluição da USP, desenvolveu os equipamentos que serão usados no estudo. Segundo ela, os filtros de policarbonato já eram usados em pesquisas sobre poluição. A novidade foi a adaptação a objetos que podem acompanhar a rotina dos voluntários.
Os filtros irão medir a exposição das pessoas ao ozônio, material particulado e dióxido de nitrogênio. Além do crachá, as grávidas receberão uma bolsinha adaptada com duas caixas de filmes fotográficos – elas armazenarão dois filtros. Os cabides também serão colocados dentro e fora das residências das voluntárias.
No caso das crianças, o crachá receberá um reforço. “Vamos colocar uma telinha para impedir que a criança coloque o dedo no filtro”, explica Míriam. O filtro dos crachás será trocado a cada 30 dias e os outros, a cada duas semanas. Todo o material será armazenado em geladeiras e, depois, seguirá para análise no Instituto de Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas da USP (IAG).
( G1 / Gazeta do Povo, 26/07/2009)