Agência americana diz que custo para tratar lixo é 10 vezes maior do que mandá-lo para fora
Cerca de 80% do lixo eletrônico dos EUA é exportado para países pobres e, principalmente, para a China. Parte desembarca no Brasil. O alerta é da Silicon Valley Toxics Coalition, entidade que monitora empresas de tecnologia na costa oeste americana, segundo a qual parte das companhias da Califórnia tem acordos para a venda de computadores e tecnologias de segunda mão para o mercado brasileiro. Nem todos, porém, são reaproveitados e, na realidade, são lixo.
Com produção anual de 400 milhões de toneladas de lixo e leis ambientais cada vez mais duras, os países ricos enfrentam um dilema: o que fazer com essa produção sem precedentes de resíduos e aparelhos praticamente descartáveis? Dados da Agência Ambiental dos EUA revelam que o custo de tratar localmente o lixo produzido é dez vezes superior ao custo de exportá-lo aos países mais pobres, principalmente os itens tecnológicos. Nos EUA, existem 500 milhões de computadores obsoletos, além de 130 milhões de celulares que são jogados no lixo por ano. Além do Brasil, México, Coreia do Sul, China, Índia, Malásia e Vietnã recebem esse material.
Empresas passaram a ser criadas para explorar o mercado ilegal, sobretudo na Europa. O transporte para países emergentes é a forma de garantir lucros. Diplomatas brasileiros confirmaram que em alguns carregamentos nem seguros são feitos. "Se a carga cair no mar, melhor", diz um deles. Em 2000, a Alemanha, por exemplo, exportou 300 mil toneladas de lixo para 14 países. Os alemães também importaram 1 milhão de toneladas de lixo de 38 países. Isso porque muitas empresas do país, de alta tecnologia ambiental, desenvolveram técnicas para reciclagem. Na Finlândia, com apenas 4 milhões de habitantes, as exportações de lixo eletrônico chegam a 800 mil toneladas por ano.
Mas grande parte do comércio ilegal é mesmo para países pobres. Na Ásia, o Japão vem buscando acordo com países da região para exportar lixo. No estudo Envenenando os Pobres, de 2008, o Greenpeace alertou que muitos países alegam enviar computadores a economias pobres para ajudá-las, mas 75% dos aparelhos que chegam à África não podem ser reutilizados e viram lixo.
Segundo a entidade Basel Action, entre 50% e 80% do lixo eletrônico produzido nos EUA é exportado e 90% vai para a China - que ainda produz 1 milhão de toneladas de lixo eletrônico por ano. Nelson Sabogal, vice-secretário da Convenção de Basileia, que regula o comércio de produtos perigosos, admite que é impossível saber a quantidade de lixo ilegalmente transportada pelo mundo. "Buscamos fechar acordos com empresas de tecnologia para garantir que esse lixo possa ser reaproveitado. Só assim podemos parar essa tendência."
(Por Jamil Chade, O Estado de S. Paulo, 26/07/2009)