O professor Carlos Alberto Eiras Garcia, diretor do Instituto de Oceanografia da Universidade Federal do Rio Grande (Furg), está coordenando um dos nós (subredes) da Rede Brasileira de Estudos para Mudanças Climáticas (Rede Clima). Trata-se da subrede Zonas Costeiras que, com a participação de mais de 40 pesquisadores de todo o Brasil, vai estudar e avaliar os impactos das mudanças climáticas globais na zona costeira brasileira. A Rede Clima foi criada pelo Ministério da Ciência e da Tecnologia em 2007, para fortalecer a área de pesquisa e ciência visando a dar base científica para que o Brasil possa estabelecer seu plano para o enfrentamento das consequências das mudanças climáticas. Essa rede, que atua junto com o Instituto de Ciência e Tecnologia para Mudanças Climáticas (INTC/Clima), é dividida em 10 nós, que são áreas de ação, como por exemplo: agricultura e silvicultura, recursos hídricos, energias renováveis, cidades e zonas costeiras. Esta última, coordenada pelo professor da Furg.
Segundo Garcia, isso se deve ao fato de a Furg ser uma instituição reconhecida nacional e internacionalmente em estudos costeiros.
De acordo com a bióloga Margareth da Silva Copertino, que acompanha Garcia nesta subrede, o Brasil tem mais estudos sobre os reflexos no ambiente terrestre e carência no marinho. O objetivo principal do nó Zonas Costeiras, neste estágio inicial, é fazer uma avaliação preliminar do conhecimento atual na área de mudanças climáticas e seus impactos sobre a zona costeira brasileira, passando por diversos temas. Da avaliação dos dados já existentes, será verificado o que pode ser usado para prever quais serão os impactos, e também identificadas as lacunas (deficiências) existentes e definidas as ações a serem desenvolvidas para mitigação e adaptação.
Um dos impactos a ser estudado é a elevação do nível do mar, para verificar como está avançando ao longo da costa brasileira. Garcia observa que os oceanos têm grande importância como controladores do clima na terra. Ele diz que as recentes observações sobre as mudanças climáticas mostram um quadro pior do que o relatório do IPCC (Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas) de 2007, quando o aumento do nível médio do mar para o final do século era estimado em aproximadamente meio metro. Hoje, a estimativa já é maior.
"Artigos recentes, publicados nas revistas científicas Nature e Science, apontam que os cenários são piores, com maiores impactos nas zonas costeiras. Anteriormente também se estimava que o gelo marinho do Ártico iria desaparecer em várias décadas. Dados recentes mostram, porém, que o desaparecimento poderá ocorrer em somente duas décadas. Alterações nos padrões de chuvas já são observadas no globo. No Brasil, fenômenos como o furacão Catarina e a intensificação das chuvas ocorridas em maio no nordeste podem ser mais frequentes no futuro", relata. Com relação ao aquecimento do planeta, um dos cenários mostra que em 2100 a temperatura do planeta poderá estar três graus acima da média atual. "A tendência dos cenários serem negativos para o final do século permanece porque continua a emissão de gases do efeito estufa", salienta o professor. As zonas costeiras estão entre as áreas mais vulneráveis às alterações do clima.
E a subrede coordenada por Garcia vai atuar para entender o que vai acontecer nestas regiões e, particularmente, na cidade do Rio Grande.
O papel dos prefeitos
A primeira preocupação é com a elevação do nível médio do mar. É saber o quanto vai subir, considerando que há concentração de pessoas nas zonas costeiras. "Cabe a cada governo municipal iniciar estudos sobre os impactos das mudanças climáticas", destaca.
Garcia pretende conversar com o prefeito do Rio Grande, Fábio Branco, sobre o assunto. Entende que os prefeitos têm que acompanhar os estudos e planejar o zoneamento costeiro de forma a adaptar aos reflexos previstos. Conforme ele, esses estudos são importantes para Rio Grande uma vez que as precipitações e descargas fluviais devem aumentar na região com consequências, por exemplo, sobre a pesca artesanal. "Importante frisar que estes estudos e preocupações não devem ficar somente na Universidade. O envolvimento do governo municipal é importante para que ações sejam tomadas agora no planejamento da cidade para as próximas décadas. Queremos que a Prefeitura se envolva com ações diretas, como por exemplo, na medição do nível do mar em diferentes porções da região costeira", ressalta.
O professor Garcia conta que a Holanda já avançou bastante nos estudos sobre as consequências que o pais deverá sofrer, devendo inclusive perder parte de seu território. A expectativa de Garcia é envolver a Prefeitura no enfrentamento dos problemas que podem ocorrer em Rio Grande. Ele diz que o nível do mar no Município está aumentando, mas que não há motivo algum para pânico. Entretanto, há necessidade de conhecer as taxas de aumento com maior precisão. No geral, a subrede Zonas Costeiras está procurando coordenar uma série de ações nacionais, de acordo com protocolos internacionais. A criação de disciplinas sobre o assunto em cursos de graduação é uma das intenções deste nó. "No ensino em geral, esse tema precisa ser mais discutido", alerta.
Workshop
Outra ação é a realização de um workshop de 13 a 26 de setembro em Rio Grande, para discutir e analisar o que já vem sendo feito no País sobre esse tema e a partir daí estabelecer políticas para o trabalho de enfrentamento às consequências das mudanças climáticas. O workshop terá como objetivos avaliar o estado atual do conhecimento sobre os efeitos das mudanças climáticas globais nas zonas costeiras brasileiras; apresentar os primeiros resultados da Rede Clima e INCT para Mudanças Climáticas - Zonas Costeiras; discutir a aplicação e elaboração de protocolos metodológicos de estudos das mudanças climáticas, padronizados para a costa brasileira, e também estratégias para a formação de redes de observação para monitorar parâmetros que serão impactados pela mudança do clima. Deverão participar do evento, que tem caráter multi e interdisciplinar, 40 pesquisadores do Brasil, três pesquisadores internacionais e 10 bolsistas da subrede, entre graduados, estudantes de pós-graduação e pós-doutores.
Outros pesquisadores e estudantes interessados no assunto poderão participar como ouvintes e expositores.
(Por Carmem Ziebell, Jornal Agora, 26/07/2009)