Luta contra gripe suína provocou corrida mundial pela vacina contra o vírus, com a indústria farmacêutica lucrando com um produto que ainda nem está disponível. OMS alerta para risco de faltar vacina para países pobres.
Segundo a emissora alemã ARD, a indústria farmacêutica espera um rápido aumento da receita através da gripe suína. Centenas de milhões de doses de uma vacina que ainda nem existe já foram encomendadas. Pelo menos 50 países assinaram contratos ou estão em negociações com os fabricantes, afirmou a emissora no site tageschau.de nesta sexta-feira (24/07).
Contrariando os conselhos da Organização Mundial da Saúde (OMS) de priorizar a vacinação de empregados do setor de saúde, funcionários públicos e pessoas pertencentes a grupos de risco, diversos países desenvolvidos, como Reino Unido, França e Austrália, encomendaram doses da vacina para praticamente toda a população, pondo em risco seu fornecimento para países emergentes e em desenvolvimento.
Devido a sua rápida propagação, a OMS acredita que praticamente todas as pessoas do mundo serão infectadas pelo vírus A(H1N1). No entanto, "a capacidade de produção da vacina não é suficiente para 6,8 bilhões de pessoas", afirmou a diretora-geral da OMS, Margaret Chan. Em uma conferência ocorrida no início de julho na cidade mexicana de Cancun, Chan declarou que a OMS pretende adquirir 150 milhões de doses da vacina para distribuir aos países pobres.
"Reação sensata"
Apesar dos prognósticos otimistas da indústria farmacêutica para a produção da vacina, a OMS calcula que somente 900 milhões de doses poderão ser produzidas anualmente – o bastante para vacinar 450 milhões de pessoas. A Alemanha encomendou 50 milhões de doses da vacina. Como a vacina deve ser aplicada duas vezes para surtir efeito, o total será suficiente para imunizar 25 milhões de pessoas.
Para o presidente da Associação Alemã para o Combate de Doenças Virais (DVV), Peter Wutzler, as autoridades alemãs reagem "de forma sensata". Ele criticou o fato de estar havendo uma corrida pelos estoques da vacina entre diversos países, já que não haverá vacinas suficientes para todos.
Influência no balanço
Segundo o site tagesschau.de, só a farmacêutica britânica GlaxoSmithKline declarou já ter vendido 195 milhões de doses da vacina e ainda espera "muitas encomendas". A entrega está prevista para o segundo semestre de 2009 e o início do próximo ano. O executivo-chefe Andrew Witty declarou que há negociações com 50 países.
A suíça Novartis informou ter recebido "diversos" pedidos da vacina contra o H1N1 e que está negociando com governos de mais de 35 países. Um porta-voz da empresa declarou que isso deverá afetar o balanço da divisão de vacinas no último trimestre deste ano, embora seja difícil prever em que proporção.
Ainda segundo o site, uma porta-voz da farmacêutica norte-americana Baxter International declarou que "no momento, a empresa não pode receber mais nenhuma encomenda", tendo registrado pedidos do Reino Unido, da Irlanda e da Nova Zelândia, entre outros.
Lucros com Tamiflu
Balanços divulgados recentemente indicam que os resultados fiscais da indústria farmacêutica já estão sendo afetados positivamente pela demanda por medicamentos contra gripe. A suíça Roche prevê que as vendas do remédio Tamiflu terão mais do que triplicado em 2009, em comparação às vendas de 2008.
Apenas no primeiro semestre, o Tamiflu já garantiu um bilhão de francos suíços (cerca de 657 milhões de euros) aos cofres da empresa. Até o final do ano, essa receita deve duplicar. No início de julho, a Roche anunciou que pretende vender o Tamiflu a preços mais baixos para países em desenvolvimento e que reserva estoques destinados somente a esses países.
(Deutsche Welle, com revisão de Rodrigo Rimon, 24/07/2009)