Polícia pede novo inquérito sobre clientes de agropecuária do Opportunity para apurar se eles usaram a empresa para crimes. Governo do Pará estuda entrar com mais ações para que a Agropecuária Santa Bárbara Xinguara devolva propriedades para o Estado
A Polícia Federal pediu à Justiça a abertura de novo inquérito na Operação Satiagraha, no Pará, para investigar clientes e terceiros ligados à Agropecuária Santa Bárbara Xinguara, braço agropecuário do Opportunity, além de aprofundar investigações sobre o uso da empresa rural por Daniel Dantas para a suposta prática de crimes financeiros. Para a PF, as apurações da Operação Satiagraha já reuniram provas suficientes de que grande parte das propriedades e do gado da agropecuária teve origem em operações ilícitas.
Agora, o objetivo do novo inquérito, pedido pelo delegado Ricardo Saadi, chefe da Delegacia de Combate a Crimes Financeiros da Superintendência da PF em São Paulo, é descobrir ilegalidades nas operações comerciais da Santa Bárbara Xingura com terceiros. Entre os alvos das novas apurações estão fazendeiros locais que podem ter se aproveitado de um suposto esquema de lavagem de dinheiro. As fazendas no Pará concentram a maior parte da criação de gado da empresa rural. Ao todo, a Santa Bárbara Xinguara possui 500 mil hectares.
O pedido de abertura de investigação será avaliado pelo juiz Fausto De Sanctis. Carlos Rodenburg, administrador da agropecuária e ex-cunhado de Dantas, será alvo de outro inquérito já autorizado pelo juiz, relativo a crimes financeiros. A defesa da agropecuária apresentou nesta quinta (23/07) a De Sanctis um pedido de liberação de 425 mil cabeças de gado- rebanho da empresa em junho. No dia 16, após pedido de Saadi, o juiz determinou o sequestro dos animais e das fazendas da Santa Bárbara Xinguara. Segundo a defesa, a comercialização do gado é essencial à atividade econômica da empresa.
Devolução
O governo do Pará estuda entrar com novas ações pedindo a devolução ao Estado de fazendas compradas pela agropecuária. Em setembro, a gestão de Ana Júlia Carepa (PT) já tinha feito o mesmo pedido em relação a duas propriedades da empresa na região de Marabá.
As novas ações devem seguir a mesma argumentação daquela, segundo a qual a Santa Bárbara adquiriu terras "aforadas" -áreas estaduais cedidas para colonização e extrativismo vegetal, no caso, de castanhas. São ao menos cinco propriedades da empresa nesta situação, contando com as que já foram contestadas. Elas foram adquiridas pela Santa Bárbara a partir de 2005, por um valor total R$ 53,7 milhões, e somam cerca de 23,5 mil hectares.
(Por Flávio Ferreira, com colaboração de João Carlos Magalhães, Folha de S. Paulo, 24/07/2009)