Um pesquisa desenvolvida por alunos do curso de farmácia da Universidade de Brasília (UnB), sob a orientação do professor Luis Isamu Barros Kanzaki, apontou graves falhas na utilização de agrotóxicos em fazendas do Distrito Federal. A pesquisa também apontou diversos problemas na segurança dos trabalhadores rurais do DF.
Segundo a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA) agrotóxicos são produtos e agentes de processos físicos, químicos ou biológicos, destinados ao uso nos setores de produção, no armazenamento e beneficiamento de produtos agrícolas cuja finalidade seja alterar a composição da flora ou da fauna, a fim de preservá-las da ação danosa de seres vivos considerados nocivos. O emprego de agrotóxicos tem implicado em problemas relacionados à contaminação ambiental e à saúde pública. O uso abusivo de agrotóxicos no processo produtivo da agricultura brasileira, seu impacto para a saúde e o meio ambiente, tem natureza complexa e envolve aspectos biossociais, políticos, econômicos e sócio-ambientais.
Os defensivos agrícolas ou agrotóxicos constituem uma categoria especial de insumos que promovem benefícios indiretos à produtividade, uma vez que o objetivo de sua utilização é o de evitar a perda nas safras, causada pelo ataque prejudicial de pragas e doenças às culturas. De fato, a existência de agroecossistemas e monocultivos para atender à enorme demanda por alimentos é necessária, porém essas modalidades de produção agrícola favoreceram o aparecimento de pragas, doenças, ervas daninhas e microrganismos. Esse desequilíbrio traz sérios problemas para a produção agrícola de alimentos, obrigando ao uso de métodos artificiais como pesticidas, fertilizantes e outros.
Os trabalhadores, principalmente no campo estão expostos maciçamente aos agrotóxicos, assim como a população em geral por meio do consumo de alimentos contendo resíduos destas substâncias tóxicas ou associação de substâncias. A exposição pode ocorrer por diferentes vias, de forma direta ou indireta, por inalação, ingestão ou por contato com a pele. Estudos também descrevem a transferência de pesticidas em plantas, os quais mostram modelos de absorção de plantas que permitem a previsão da acumulação, translocação e transformação do contaminante nas partes comestíveis de plantas, que representam a principal entrada de pesticidas na cadeia alimentar.
A toxicidade dos pesticidas, tanto no nível genético quanto no metabólico, ainda não foi adequadamente descrita. Dados recentes da Organização Internacional do Trabalho/ Organização Mundial da Saúde estimam que, entre trabalhadores de países em desenvolvimento, os agrotóxicos causam anualmente 70 mil intoxicações agudas e crônicas que evoluem para óbito. E pelo menos 7 milhões de doenças agudas e crônicas não-fatais, devido aos pesticidas.
O mercado de defensivos agrícolas é subdividido em três segmentos: inseticidas (incorporando-se a este os segmentos de acaricidas e formicidas), fungicidas e herbicidas. Este mercado caracterizou-se por uma forte expansão nas últimas duas décadas, em que os diversos ritmos de crescimento dos segmentos de mercado foram devidos a fatores como: diferentes composições estruturais da demanda, políticas governamentais e sucesso ou fracasso das estratégias mercadológicas das empresas.
Dada a dinâmica dos agrotóxicos no ambiente e sua relevância no contexto da saúde das populações, a definição de diretivas e regulamentações governamentais acerca da produção, comercialização e uso desses produtos deve ser conduzida com devido rigor. Um controle importante é o monitoramento dos cuidados que estão sendo tomados na aplicação dos defensivos agrícolas, já que pesquisas revelam que muitos usuários de agrotóxicos aplicam doses acima das recomendadas pelo fabricante, pensando que com isso evitam riscos de perda. Também se sabe de outros procedimentos inadequados, como colher os produtos agrícolas antes da data prescrita ou até mesmo utilizar um agrotóxico que não seja recomendado ao plantio em questão
Segurança ainda é precária
Conforme denunciam os resultados obtidos pela pesquisa da UnB, a utilização integral dos equipamentos de proteção individual (EPIs) no momento da administração dos agrotóxicos não é ainda um aspecto generalizado na rotina dos trabalhadores rurais que os utilizam em suas lavouras. Embora a maior parte dos entrevistados tenha citado o uso do EPI como sendo um dos principais cuidados tomados em relação aos agrotóxicos houve um índice considerável de respostas negativas quanto à questão do seu uso habitual e adequado.
Outro dado contraditório diz respeito ao fato de que quase a totalidade de produtores agrícolas entrevistados ter afirmado que observa as normas e tem conhecimentos suficientes acerca dos riscos e orientações de uso dos agrotóxicos. Mesmo assim, conforme já exposto, o uso rotineiro do EPI não corresponde à porcentagem de entrevistados que diz ler as instruções. Da mesma forma, grande parte dos entrevistados relatou não acreditar no poder extremamente tóxico dos agrotóxicos, justificando a não utilização do EPI com base no suposto desconforto da vestimenta, e dizendo não se preocupar com os riscos provenientes de uma intoxicação, já que eles acreditam que essa intoxicação não seja comum.
O conhecimento de formas alternativas de controle de pragas por meio de métodos naturais não foi encontrado com uma alta frequência nas propriedades visitas. Considera-se que informações a respeito de formatos naturais distintos de controle de doenças e demais pragas não seja bastante difundida embora sejam diversas.
O principal aspecto a ser considerado proveniente dos resultados obtidos é a falta de informação dos aplicadores quanto a questões relativas à segurança, riscos e modos de usar dos defensivos agrícolas bem como a metodologias alternativas de intervenção contra as pragas, métodos estes que são passíveis de reduzir em muito os gastos com agrotóxicos, que se provaram elevados dentre as unidades agrícolas visitadas, bem como reduzir a agressão ao meio ambiente e à saúde humana e animal.
(Clicabrasilia.com.br / EcoDebate, 04/07/2009)