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cerrado queimadas incêndios florestais
2009-07-22

Alerta nas áreas verdes do Distrito Federal. Com a época de seca, as ocorrências de queimadas nos locais de preservação ambiental são mais frequentes e se tornam muito mais devastadoras. De abril a julho deste ano, o Corpo de Bombeiros prestou 514 atendimentos relacionados a esse tipo de incêndio. Apesar de o número ser bem inferior em comparação ao mesmo período do ano passado, no qual foram registradas 1,5 mil ocorrências, os brigadistas estão em vigilância e pedem cuidado à população. Maus hábitos, como jogar ponta de cigarro no chão ou utilizar fogo, sem orientação especializada, para limpar terrenos, devem ser abolidos.

A redução no número de ocorrências pode ser explicada pela mudança climática que vem ocorrendo nos últimos anos, além do aperfeiçoamento do trabalho preventivo de combate às queimadas. Há 10 anos, a época de seca cessava em meados de setembro. Hoje, a estação termina no início de outubro. A impressão é de que o tempo de seca está maior, mas é o período chuvoso que está se prolongando. Prova disso é que há dez dias ocorreram pancadas de chuva em algumas regiões do DF. O calendário oficial climático não é mais o mesmo, segundo o meteorologista do Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet) Manuel Rangel. “O inverno começa com a seca, mas o período crítico será a partir de agosto, quando se registram os menores índices de umidade do ano, até outubro. Há um deslocamento do calendário de 20 a 25 dias”, afirma ele.

Neste ano, a estiagem começou em junho. Até agora, a vegetação não está totalmente ressecada e não houve registro de incêndio relevante, mas isso não significa que o brasiliense está livre do risco das queimadas. Inclusive, o principal causador dos incêndios nas áreas de preservação ambiental localizadas próximas às áreas urbanas – como é o caso do Parque Nacional de Brasília, que é rodeado por ocupações – é o próprio homem. De acordo com o coronel do 4º Batalhão Florestal do Corpo de Bombeiros, Delfino Guedes, é comum encontrar pedaços de vidro ou pontas de cigarros perto das áreas de preservação.

O hábito de fazer queimadas de plantio ou de lixo sem orientação prévia do Corpo de Bombeiros e do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) é outro grande provocador dos incêndios, além de ser crime (veja O que diz a lei). “Todo fogo no meio da mata tem que ser feito com cuidado, observando a direção e a intensidade do vento. Esse tipo de ação tem que ser comunicada aos órgãos responsáveis para evitar que percam o controle”, afirma Guedes.

Além do Parque Nacional de Brasília, as áreas que estão na mira dos brigadistas são a Estação Ecológica de Águas Emendadas, o Jardim Botânico, a reserva do IBGE e a fazenda Água Limpa – as três ultimas são próximas umas das outras. “É o foco da nossa preocupação. A área das Águas Emendadas, em Planaltina, não queima há seis anos. A vegetação no local está densa e isso é preocupante porque pode queimar com mais facilidade”, justifica o coronel. Para evitar a tragédia, no mês passado, foi realizado o aceiro negro(1) nas bordas da estação.

1 - Prevenção
É a queima de uma faixa de 20 metros de largura da vegetação que cerca a área para retirar material combustível do entorno da unidade e evitar que um incêndio se propague.

Fogo provoca morte e destruição em cadeia
Os danos causados ao meio ambiente pelas queimadas podem gerar uma cadeia de perdas irreparáveis. O fogo mata animais e plantas, e algumas espécies não rebrotam, como o ipê-roxo. Ao mesmo tempo, empobrece o solo devido à perda de nutrientes, além de destruir a camada protetora de folhas e galhos secos. Caso chova no local onde não há mais essa camada, o impacto das gotas de água inicia um processo erosivo. O desastre ecológico pode atingir os rios e córregos próximos à área queimada. “A mata faz sombra e permite que a temperatura da água permaneça fria. Se o fogo queima essa cobertura, a água vai ficar mais quente e pode matar algumas espécies aquáticas”, explica o coordenador de prevenção e controle de riscos ambientais do Instituto Brasília Ambiental (Ibram), João Santana Mauger.

Existe um mito, no entanto, de que o bioma cerrado é suficientemente forte para suportar queimadas. A vegetação rasteira é mais resistente do que a mata ciliar, mas ainda hoje podem-se encontrar, no Parque Nacional de Brasília, árvores com vestígios do incêndio que ocorreu em 1994, cuja área atingida foi de 21 mil hectares. A ocupação desordenada das terras do DF permitiu que muitos corredores ecológicos fossem exterminados e as áreas de preservação ambiental se tornaram verdadeiras ilhas para a fauna e a flora. “O animal não tem para onde fugir caso haja uma queimada”, afirma o coordenador nacional do Prev-Fogo do Ibama, Elmo Monteiro. Na lista dos animais que mais sofrem com incêndios no cerrado está o tamanduá-bandeira, que se locomove lentamente e tem a pelagem vasta. Em relação à flora, há espécies que não suportam fogo, como o jequitibá.

O que diz a lei
A queima de restos de podas de árvores ou lixo que resulte em risco de queimada é crime ambiental previsto na Lei Federal nº 9.605/98. A multa é de R$ 1,5 mil por hectare. O crime, inafiançável, prevê pena de dois a quatro anos de prisão (por dolo, quando há intenção) e de seis meses a um ano de detenção (por culpa, sem intenção). A população deve denunciar, de preferência no momento em que a pessoa estiver fazendo o fogo, para haver flagrante. Informações: 3901-2930 e 193.

Brigadistas preparados
A operação Verde Vivo, do Corpo de Bombeiros, é desencadeada na época de seca com o objetivo de minimizar as causas e os efeitos dos incêndios florestais. No entanto, desde o início do ano, os brigadistas estão se preparando para enfrentar a temporada de queimadas com a realização de cursos de capacitação e treinamento. No último mês, o GDF comprou oito mil itens para o combate preventivo de incêndios florestais. Foram adquiridos kits de equipamentos de proteção individual (botas, óculos, máscaras e mochilas de hidratação), 50 aparelhos de GPS para localização e navegação na mata, roçadeiras mecânicas para evitar o uso de enxadas ao fazer os aceiros negros e assopradores, entre outros itens.

(Por Luisa Medeiros, Correio Braziliense, 21/07/2009)


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