Com uma indústria de reciclagem forte, mas sem uma coleta de lixo seletiva eficiente, o Brasil vive a situação de ter mais capacidade para reciclar do que sucata disponível. No caso da resina PET, a reciclagem movimenta R$ 1 bilhão ao ano, segundo a Associação Brasileira da Indústria do PET (Abipet), número que poderia ser maior caso houvesse mais matéria-prima disponível.
A falta de sucata abre espaço para a importação ilegal de lixo, diz Auri Marçon, presidente da Abipet. No Brasil só é permitida a importação de rejeitos de PET resultante de sobras da indústria, mesmo assim com uma autorização especial. Os números de importação, no entanto, são grandes e crescentes. Segundo a entidade, foram importadas 14 mil toneladas de PET em 2008, um crescimento de 75% em relação às 8 mil toneladas compradas do exterior em 2007.
Para o presidente da Abipet, essa é uma situação preocupante, pois o número é muito alto para ser apenas rejeito industrial. "Como não temos uma fiscalização forte sobre o que entra no Brasil, principalmente na fronteira do Mercosul, acredito que grande parte do que é importado de sucata de PET vem de descarte doméstico, ou seja, é lixo", diz ele. Segundo Marçon, como as empresas recicladoras compram a sucata de terceiros, é difícil manter o controle sobre a procedência do produto. "Sabemos que o problema existe e queremos que ele seja combatido, mas não queremos fazer papel de polícia. O que fazemos é conversar com órgão dos governos ligados ao ambiente para alertá-los", diz.
O inverno é justamente o período onde há mais falta de PET para reciclar no Brasil. Além do consumo de bebidas ser menor do que no verão, o tempo também influencia o ritmo da coleta seletiva. Como a maior parte da coleta no país é informal, o frio espanta os catadores de sucata da rua, o que reduz o volume de garrafas separadas do lixo comum.
(Por Samantha Maia, Valor Econômico, 21/07/2009)