Um ano depois de entrar em vigor, a legislação paulistana que estabeleceu a obrigatoriedade da instalação de aquecedores solares em edifícios com apartamentos com quatro banheiros ou mais ainda não trouxe grande impacto às vendas dos fabricantes dos equipamentos. Segundo as empresas, o que já pode ser sentido é um aumento das consultas de profissionais como arquitetos e engenheiros sobre o que é preciso fazer para adequar seus projetos à lei.
Dado o tempo de execução das obras - os aquecedores solares são implantados na fase final - e também o cenário adverso, que diminuiu o ritmo de lançamentos por conta da crise financeira, a expectativa de um impacto maior nas vendas está centrado entre 2010 e 2011. Por outro lado, o fato de as consultas terem crescido desde a implementação da legislação fez com que a perspectiva de aumento das vendas chegue a 15% no ano que vem, segundo a Associação Brasileira de Refrigeração, Ar-Condicionado, Ventilação e Aquecimento (Abrava).
"Os projetos de novos edifícios ainda não estão na fase de compra", declarou Luiz Augusto Ferrari Mazzon, diretor-presidente da Soletrol. Segundo ele, houve um aumento nas vendas nos últimos doze meses, mas principalmente de equipamentos utilizados em residências. No mesmo sentido, Aldo Batista, diretor da e2solar, informa que o impacto na demanda ainda não aconteceu de forma significativa. "Se eu tivesse de atribuir um percentual por causa da lei, não passaria de 5%", disse o executivo, ao ressaltar que os primeiros meses desde que a legislação passou a vigorar em São Paulo serviram para construtores e arquitetos entenderem quais as novas regras.
De acordo com o acompanhamento realizado pela Abrava com base em dados da prefeitura, há uma lista de 340 empreendimentos em construção na capital paulista que se enquadram na lei e que tiveram suas obras protocoladas a partir de julho do ano passado. Quando um imóvel se enquadra na lei, o projeto recebe na prefeitura uma ressalva sobre a obrigação do uso de aquecedor solar.
A associação estima que apenas essas obras devem garantir um crescimento de 15% nas vendas de equipamentos até julho de 2010. "Esse já é um movimento provocado pela lei", diz Carlos Felipe Faria, diretor da entidade. Para ele, o aumento das consultas das construtoras aos fabricantes de equipamento é um fator importante para impulsionar o mercado. "Está surgindo uma sinergia entre os fabricantes e os construtores que não havia antes da lei", diz ele. Faria destaca, porém, que a falta de informação ainda é um problema que preocupa as empresas e que pode atrapalhar a implantação da lei. "Acreditamos que é importante manter os trabalhos de divulgação da lei e das vantagens do uso dos aquecedores."
Conforme os dados da entidade, o segmento faturou R$ 700 milhões no ano passado e cerca de 40% do resultado foi obtido no Estado de São Paulo. Além da instalação de aquecedores em edifícios com apartamentos de quatro ou mais banheiros, a lei 14.459 prevê a obrigatoriedade dos equipamentos para o aquecimento de piscinas e em edifícios comerciais com utilização de água quente intensiva. A lei paulistana é de julho de 2007, mas foi sancionada em janeiro do ano passado, com prazo de seis meses para as empresas adotarem as novas regras.
(Por Guilherme Manechini e Samantha Maia, Valor Econômico, 21/07/2009)