Até o fim do ano, o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) deverá concluir estudo em parceria com a Embrapa sobre o uso das terras degradadas pelo desmatamento. Além disso, o instituto trabalhará no levantamento de informações sobre o peso real do desflorestamento em relação às emissões totais de gases de efeito estufa.
Segundo o diretor do Inpe, Gilberto Câmara, a informação de que o desmatamento responderia por 20% do total de emissões é defasada. O cálculo foi feito pelo Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas (IPPC, na sigla em inglês), em seu quarto relatório, com dados da década de 1990. De acordo com esse relatório, o Brasil responderia por 75% das emissões mundiais por desflorestamento, seguido pela Indonésia.
Segundo Câmara, porém, naquela época, o Brasil desmatava na Amazônia cerca de 22 mil km2/ano – hoje, o índice está em cerca de 12 mil km2/ano. A Indonésia também reduziu o desmatamento de lá para cá. Além disso, o cálculo do quarto relatório do IPCC teria superestimado o tamanho da biomassa da Amazônia.
É fácil calcular resultados atualizados, pelo menos no caso brasileiro, segundo o diretor do Inpe. “Estamos trabalhando, pelo menos no Brasil, para ter uma estimativa melhor. Sei quanto desmatamos em 2008, é público. Vou pegar o dado de biomassa, que também é público, vou botar um em cima do outro e vou ver o resultado. É fácil”, explicou Câmara, após conferência na sexta-feira (17/07), último dia da 61ª Reunião Anual da SBPC, em Manaus. O cálculo apontaria que o desmatamento brasileiro responderia por cerca de 5% das emissões globais. No cálculo atualizado, as derrubadas das florestas seriam responsáveis por 10% desse total e o Brasil, por metade das emissões por desflorestamento.
“Os números de que o desmatamento responde por 20% das emissões não têm base. [Na década de 1990], o governo brasileiro, no lugar de publicar os dados do Prodes (Programa de Monitoramento da Floresta Amazônica Brasileira por Satélite), publicou um relatório de emissões, pois tinha a posição de não dar os dados do Prodes para ninguém. O único relatório de emissões que a gente tem, de 1996, acabou por justificar que o desmatamento seria 20% [do total de emissões]”, afirmou Câmara.
De acordo com o diretor do Inpe, o dado serve politicamente aos países desenvolvidos. Negociadores desses países argumentam que as emissões por desflorestamento são as mais fáceis de serem controladas, principalmente por meio de mecanismos de Redd (Redução de Emissões por Desmatamento e Degradação). Câmara discorda e posiciona-se contra o pagamento para manter florestas em pé, compensando a não redução de emissões de outras fontes – como energia, indústria e transportes – em outros países. O problema maior, segundo ele, é que grande parte do desmatamento no Brasil é ilegal. Não faria sentido, portanto, pagar a quem não cumpre a lei.
“A gente conseguiu reduzir [o desmatamento] de 27 [mil km2/ano] para 12 [mil km2/ano] sem dinheiro de Redd. Para que precisamos de Redd? Precisamos de governança e mercado. Como a moratória da soja funcionou? O mercado disse que não ia comprar soja de área desmatada”, afirmou Câmara.
Uso da terra
Sobre as áreas degradadas, Câmara afirmou na conferência que ninguém sabe o que ocorreu com elas. O estudo conjunto do Inpe e da Embrapa construirá um mapa dessas áreas. Dados apresentados por Câmara mostram 700 mil quilômetros quadrados já desmatados na Amazônia – 450 mil deles com mais de dez anos. O mapa produzido pelo estudo serviria de subsídio para políticas públicas de desenvolvimento para a Amazônia sem desmatar novas áreas.
(Por Vinicius Neder, Jornal da Ciência, 20/07/2009)