A criação de parques e reservas, somada à consciência ambiental, pode evitar que a reforma da rodovia BR-319, que liga Porto Velho a Manaus (AM), se transforme em um caminho aberto para a devastação. Essa é a opinião do engenheiro Alexandre Rivas, professor da Universidade Federal do Amazonas (Ufam) e coordenador do estudo que mediu o impacto ambiental que a estrada pode causar na região.
“Na história recente da Amazônia, o objetivo era desmatar. Não havia nenhuma preocupação com desmatamento, mas a ideia atual é extrair o máximo possível de benefícios com o menor impacto possível”, afirmou Rivas nesta sexta-feira (17/07) durante a reunião anual da SBPC (Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência), em Manaus. A rodovia é a única ligação terrestre entre Porto Velho e a capital amazonense. O trecho que será reconstruído com recursos do PAC, no valor de R$ 650 milhões, mede 405 quilômetros e está intransitável, apesar de ter sido asfaltado na década de 1970.
Para ambientalistas, a reativação da estrada pode ser uma porta aberta para a devastação de uma das regiões mais preservadas da Amazônia, como ocorreu com outras grandes estradas da região. Na última quinta-feira (16), durante evento em Manaus, o próprio ministro do Meio Ambiente, Carlos Minc, se declarou contrário à reforma da estrada, dizendo preferir a construção de uma ferrovia ou a modernização do transporte fluvial para melhorar os acessos à capital do Amazonas.
O projeto, contudo, é uma das principais bandeiras do ministro dos transportes, Alfredo Nascimento, senador licenciado pelo estado do Amazonas e um dos nomes cogitados para candidatura ao governo do estado em 2010. No último dia 10 de junho, o Ibama rejeitou os estudos de impacto ambiental para a reforma da BR-319, alegando ser necessárias adaptações para a proteção da flora e fauna no entorno da rodovia. Com isso, a licença para a obra foi negada, e o Departamento Nacional de Infraestrutura dos Transportes (DNIT) terá que apresentar novos estudos para iniciar a reforma.
Para evitar danos ambientais ao longo da floresta, estão planejados mais de 20 parques e reservas, espalhados pelo estado do Amazonas e Rondônia. Segundo Rivas, a ‘blindagem ecológica’ – como vêm sendo chamados esses parques – ajudará muito a preservação, já que um dos principais estímulos ao desmatamento, segundo ele, é o fato de muitas terras na Amazônia não terem dono definido.
“Uma vez que a terra passa a ser uma unidade de conservação, está se definindo um padrão de propriedade para aquela terra. Portanto, não é mais uma terra de ninguém”, diz o professor da Ufam. Segundo o ministro do Meio Ambiente, a licença para a reconstrução da rodovia não sairá enquanto os parques, reservas e postos de fiscalização não estiverem instalados ao longo da estrada. “Enquanto a gente não for lá e fotografar uma por uma as 28 unidades de conservação, não vai sair [a licença]”, disse ele em Manaus.
(Por Iberê Thenório, Globo Amazônia / IHUnisinos, 21/07/2009)