Expedição científica ao mar de Bering relata detalhes da vida marinha e destaca o papel do copépode na cadeia alimentar local
A bordo do navio quebra-gelo Healy, pesquisadores do Instituto Oceanográfico Woods Hole (WHOI, na sigla em inglês) navegam pelo mar de Bering, numa expedição de seis semanas, iniciada em 7 de maio, para estudar efeitos das mudanças climáticas nesse ecossistema polar. “Crustáceos de todos os tamanhos são vistos por todos os lados”, relatam os pesquisadores. No topo da escala, estão lagostas suculentas e caranguejos com patas que atingem 30 cm. Na extremidade inferior, estão os copépodes, criaturas parecidas com insetos e do tamanho da ponta de um lápis. Eles vivem tanto em água doce, quanto no oceano e se enroscam nos cabelos de quem nada na praia. Uma rede para plâncton colocada ao lado de qualquer embarcação no mar de Bering, poderá capturar facilmente uma tonelada deles.
“Copépodes são um elo importante na cadeia alimentar”, comenta Carin Ashjian, oceanógrafa do WHOI e líder da equipe de zooplâncton da expedição. Eles se alimentam de organismos unicelulares ─ como diatomáceas e dinoflagelados ─ presentes na água. Além disso, servem de alimento para quetognatas, larvas de peixe, peixes maiores, pássaros marinhos (como os auklets) e baleias, daí sua enorme importância para o ecossistema.
Todas as manhãs a equipe de zooplâncton arremessa uma rede na esteira de água deixada pelo navio, e a recolhem repleta de copépodes de diversas espécies. Em seguida começam a fazer experimentos com os animais capturados. Para descobrir do que os copépodes têm se alimentado, alguns crustáceos são colocados em uma garrafa com a água do mar de onde foram retirados, onde permanecem durante 24 horas. A água parece turva e velha, mas para os copépodes ela é alimento, pois está repleta de organismos unicelulares. Os cientistas analisam amostras da água antes de os copépodes mergulharem nela e 24 horas depois; em seguida verificam as amostras no microscópio para descobrir o que os copépodes comeram.
“O maior objetivo é tentar compreender quanto eles conseguem comer”, observa Ashjian. “É como se fossem vacas em um pasto. O zooplâncton consegue comer toda a matéria vegetal que é produzida?”. A equipe mantém alguns copépodes- fêmea em um “hotel de larvas” – uma espécie de maternidade – e, depois de 24 horas, coleta os ovos para verificar sua velocidade de reprodução.
A imagem mostra alguns animais capturados em uma rede para coleta de plâncton, incluindo os três principais tipos que a equipe de zooplâncton tem estudado. Os copépodes maiores são os Calanus; os menores são os Pseudocalanus. Há, também, alguns Metridia – um deles é claramente o menorzinho próximo da parte superior da imagem, um pouco à esquerda. Imagine como um animal do tamanho de uma baleia do Ártico, de 18 metros, pode depender de animais tão pequenos. Mas os copépodes têm comportamento semelhante, pois alimentam-se de organismos unicelulares com um milésimo de seu tamanho.
Na imagem, a água contem tricaína − um anestésico para peixes − utilizado para acalmá-los; a maior parte dos copépodes está inerte, de costas, mas os Metridia continuam nadando. “Eles são graciosos”, comenta Ashjian. “Gosto dos Metridia porque são excêntricos, e comem de tudo”. Eles também brilham, produzindo luminosidade por reações químicas. “Acreditamos que essa luminosidade azul sirva para afastar predadores”, explica a oceanógrafa. É uma bela visão, mas infelizmente não são animais de estimação. “Cultivar copépodes exige muito tempo”.
O copépode é apenas uma parte do ecossistema do mar de Bering. À medida que o Healy balançava ao sabor do vento, navegando pelo mar durante cinco semanas, os pesquisadores fizeram dezenas de paradas e realizaram vários experimentos. A viagem terminou no dia 12 de maio, quando retornaram a Dutch Harbor, Alasca, mas o projeto continuará. Muitos dos cientistas participarão de uma expedição, ainda no mar de Bering, no segundo semestre deste ano. Outra viagem ocorrerá no primeiro semestre de 2010. Finalmente, esses resultados serão combinados com outras análises e medidas de outras expedições para gerar um modelo gigantesco do ecossistema do mar de Bering.
(Scientific American Brasil, 20/07/2009)