Trabalhos dos principais centros científicos do mundo publicados em 2008 foram reunidos pelo World Resources Institute e apontam a humanidade como principal responsável pelo aquecimento global
Quando postos lado a lado, estudos e pesquisas com assuntos tão diversos quanto o degelo em montanhas e a morte de corais revelam dois preocupantes pontos em comum: as mudanças climáticas estão acelerando e o homem é o principal responsável pelo fenômeno. Estas são as principais conclusões do “Climate Science 2008: Major New Discoveries”, uma compilação de trabalhos reunidos pela World Resources Institute (WRI) divulgada na última semana. “Os impactos das mudanças climáticas estão acontecendo agora. Isto não é um fenômeno distante. E muitos dos impactos estão aparecendo em um ritmo mais acelerado do que era previsto”, afirmou um dos co-autores da compilação, Kelly Levin.
O "Climate Science 2008: Major New Discoveries" foi dividido em quatro grandes tópicos: física do clima; ciclo hidrológico; ecossistemas e serviços ambientais; e tecnologias de mitigação. Dentro do tópico “física do clima” foram selecionados estudos sobre mudanças abruptas, aumento de temperatura, concentração de gases do efeito estufa e de aerossóis na atmosfera e comportamento dos oceanos.
Um dos trabalhos que mais chama a atenção nessa sessão é o “How natural and anthropogenic influences alter global and regional surface temperatures: 1889 to 2006”, algo como “Como as influências naturais e antropogênicas alteraram as temperaturas globais e regionais: 1889 a 2006”. Publicado em setembro de 2008 no periódico Geophysical Research Letters, o estudo contraria as análises existentes até então de que causas naturais, como sol, teriam 69% de responsabilidade sobre a elevação das temperaturas. Os pesquisadores descobriram que a participação do astro no aquecimento global não ultrapassaria os 10%, chegando assim a conclusão de que a maior responsabilidade sobre o aquecimento é mesmo do homem.
Nesta mesma sessão é apresentado um outro estudo que reforça essa idéia ao afirmar que a taxa de crescimento das emissões de dióxido de carbono (CO2) entre 2000 e 2007 foi quatro vezes maior que na década anterior. Na sessão de ciclo hidrológico foram incluídos trabalhos nas áreas de derretimento, suprimento de água e tempestades. Entre as descobertas está a de que a taxa de perda de gelo da Antártica cresceu 75% entre 1996 e 2006. Também que o degelo de nove cadeias de montanhas ao redor do mundo dobrou entre os períodos de 2004/2005 e 2005/ 2006.
Novamente demonstrando a responsabilidade antrópica sobre o clima, o estudo “Human-induced changes in the hydrology of the western United States” (“Mudanças na hidrologia causadas pelo homem no oeste dos Estados Unidos), aponta que 60% das mudanças hidrológicas no oeste dos EUA são causadas pelo homem. E que essas alterações, se mantidas, devem levar a uma séria crise no abastecimento.
Sobre ecossistemas, o trabalho “Attributing physical and biological impacts to anthropogenic climate change”, publicado na revista Nature no dia 15 de maio de 2008, destaca a também ação humana como principal fator na mudança de comportamento de 28.800 sistemas biológicos e 829 sistemas físicos. Nesta mesma sessão são apresentados estudos que mostram que até um terço dos corais que formam os recifes correm risco de extinção e que se as emissões de CO2 continuarem inalteradas, as ‘zonas mortas’ dos oceanos tropicais podem crescer 50% até 2100.
Esperança
Se a compilação “Climate Science 2008: Major New Discoveries” deixa claro que é o homem o principal responsável pelas mudanças climáticas, ela também responde que é dele e de sua criatividade que devem vir as soluções para o problema. Na última sessão do relatório, aparecem as tecnologias que ajudariam a minimizar as conseqüências detalhadas nos estudos anteriores. Foram reunidos trabalhos da área solar, termoelétrica, biocombustíveis, energia das ondas, baterias e captura de carbono.
Por exemplo, cientistas do Instituto Tecnológico de Massachusetts (MIT) desenvolveram uma nova solução de energia solar inspirada na fotossíntese das plantas. Eles construíram uma célula solar que consegue dividir moléculas de água, produzindo assim hidrogênio que pode ser usado em células de combustível. Em outra iniciativa, engenheiros britânicos criaram um mecanismo, chamado de Anaconda por sua semelhança com uma cobra gigante, que produz energia ao oscilar sobre a passagem das ondas do mar. Como é feita de borracha, a tecnologia é muito mais leve e barata que outros produtos semelhantes, que geralmente são de metal.
Com relação à captura de carbono, a Universidade de Calgary, no Canadá se destaca por sua máquina que promete coletar CO2 do ar. Ela seria capaz de capturar até 20 toneladas do gás por ano, ao custo energético de 100 kWh para cada tonelada. O projeto, divulgado em setembro de 2008, ainda segue em fase de pesquisa e desenvolvimento.
(Por Fabiano Ávila, CarbonoBrasil, 20/07/2009)