“Para colocar todos de acordo, decidiram ir na velocidade do mais lento: assim é fácil alcançar um entendimento”. Jeremy Rifkin responde ao telefone em Montecarlo, em uma pausa do encontro com o príncipe de Mônaco que quer iniciar um plano para frear o efeito estufa. E a opinião do presidente da Foundation on Economic Trends sobre o resultado do G8 é seca: “Um acordo ridículo”.
La Repubblica - Porém, foi fixado o teto de dois graus no aumento de temperatura do planeta: até agora, os Estados não tinham dado uma indicação tão precisa.
Jeremy Rifkin - Concordo, mas o que se deve fazer para não superar os dois graus? Não basta expressar um desejo pio. É preciso, antes de tudo, entender a que nível de concentração de gás carbônico na atmosfera corresponde um aumento de dois graus e depois organizar um sistema energético coerente.
O IPCC [Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas] considera que, para ficar dentro de um aumento de dois graus, a concentração de gás carbônico na atmosfera não deve superar as 400-450 partes por milhão.
Rifkin - O IPCC é muito cauteloso, e os seus relatórios anteriores, muitas vezes definidos como alarmistas, foram superados pelos fatos: a aceleração da desordem climática foi mais dramática do que a prevista. Jim Hansen, um dos climatologistas mais acreditados, depois de ter estudado as calotas polares que contam a passagem de uma era glacial a uma interglacial, oferece um quadro da situação muito diferente: quando se manteve, no passado, por um certo período de tempo, uma concentração de 450 partes por milhão de gás carbônico, o efeito foi uma elevação da temperatura em seis graus, não em dois. E um rápido aumento de seis graus não é compatível com a manutenção da sociedade humana assim como nós a conhecemos.
Segundo Jim Hansen, o objetivo é levar a concentração de gás carbônico na atmosfera para 350 partes por milhão, isto é, reduzi-la com relação ao presente levando-a para mais próximo da cota de 280, o nível pré-industrial. Isso significaria ter uma política de cortes drásticos e imediatos que muitos consideram incompatíveis com o desenvolvimento econômico.
Rifkin - Eu acredito que seja totalmente o oposto: o erro está em pensar só nos cortes das emissões que, pelo contrário, deveriam ser um efeito secundário de políticas virtuosas capazes de relançar a economia, em vez de enterrá-la. Para sair das três crises que nos sufocam, a econômica, a energética e a ambiental, não podemos nos limitar a talvez um pouco menos da velha história poluente: devemos lançar a terceira revolução industrial pensando positivamente, isto é, fixando objetivos sobre as indústrias a serem relançadas. Não é preciso dizer aos vários países quantas emissões eles devem cortar, mas sim quantas fábricas limpas devem construir.
Mais indústrias e menos emissões?
Rifkin - Exatamente. A terceira revolução industrial é a que permite um desenvolvimento econômico que se concilie perfeitamente com a redução das emissões. Por exemplo, com as “smart grid” [redes elétricas inteligentes], com a energia difusa e descentralizada, cada casa desfrutando o sol pode se tornar uma verdadeira pequena central de produção de eletricidade e calor. Se adotássemos esse modelo, o setor das construções, que hoje é o primeiro fator de reaquecimento do planeta, poderia se tornar parte da solução do problema.
As casas como elemento estimulante do novo modelo energético?
Rifkin - Um dos quatro pilares. O primeiro é constituído pelas energias renováveis. O segundo é representado pelos edifícios sustentáveis. O terceiro, pelas tecnologias baseadas em hidrogênio, que serve para concentrar a energia produzida pelas fontes renováveis. O quarto pilar, das redes inteligentes para distribuir a energia segundo o modelo da Internet.
(IHUnisinos / CarbonoBrasil, 14/07/2009)