Uruguaiana decreta situação de emergência, e Caxias pode cancelar eventosNa tentativa de conter a escalada da gripe A em solo gaúcho, municípios adotam medidas de impacto. Após o placar no Estado registrar um aumento de sete para 11 casos fatais, Uruguaiana decretou situação de emergência, e Caxias do Sul cogita restringir missas, sessões de cinema e outras formas de aglomeração. A Secretaria Estadual da Saúde considera que essa medida deve ser adotada somente em casos de surtos localizados.
Para conter a gripe A em Caxias do Sul, a prefeitura já decidiu antecipar as férias escolares de 89 estabelecimentos municipais de ensino. Além disso, admite adotar medidas ainda mais drásticas como fechar temporariamente cinemas, igrejas, boates e outros locais que facilitem aglomerações – a exemplo do que foi feito no México, no início da epidemia, para tentar interromper o contágio.
A possibilidade foi cogitada ontem pela secretária municipal da Saúde, Maria do Rosário Antoniazzi, ao admitir que entre quatro e cinco mortes ocorridas em Caxias nos últimos dias podem estar relacionados à gripe. Não foi informado quando ocorreram os óbitos ou quem eram os pacientes porque a confirmação depende de exames. O último caso suspeito foi registrado ontem, quando um jovem de 24 anos morreu em razão de uma pneumonia. Até sexta-feira, havia 51 casos suspeitos da nova gripe na região de Caxias do Sul, e um novo boletim será divulgado hoje.
Suspensão de atividades só valeria para surtos localizados
Em Uruguaiana, onde foram confirmadas duas novas mortes ontem, o prefeito Sanchotene Felice decidiu decretar situação de emergência para facilitar a contratação de médicos e enfermeiros e a compra de equipamentos e medicamentos. A decisão foi tomada após a média de consultas superar os 600 atendimentos diários.
– O aumento se deve ao fato de as pessoas, atendendo nossa orientação, procurarem preventivamente os postos no primeiro sinal de febre alta e tosse – explicou o prefeito.
A prefeitura da Fronteira Oeste pretende contratar emergencialmente 10 médicos para dar conta da demanda. A falta de profissionais disponíveis na região levará o prefeito a conversar hoje com representantes do Conselho Regional de Medicina e do sindicato médico na Capital.
– Vamos contratar médicos da Região Metropolitana para nos ajudar nesse atendimento preventivo, de triagem, nas unidades básicas de saúde – disse.
O secretário estadual da Saúde, Osmar Terra, considera que medidas como a suspensão de atividades não devem ser adotadas, salvo em casos específicos como surtos localizados – quando há um grande percentual de infectados em uma área restrita.
– Não podemos paralisar o Estado e disseminar pânico entre a população. Em 99% dos casos, a gripe A não exige nem internação – argumenta.
O infectologista Marcos Boulos, diretor da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP), avalia que aglomerações de pessoas tendem a favorecer a transmissão de qualquer uma das chamadas doenças de inverno, que costumam se espalhar por gotículas de saliva e incluem a gripe comum. Porém, ele considera que tentativas drásticas de bloquear a circulação do vírus são mais eficazes quando ainda não há epidemia. Quando ela já está instalada, como no caso gaúcho, não teriam garantia de eficácia.
– O vírus vai se espalhar de qualquer jeito. O melhor é tratar como uma gripe comum, porque a gripe comum também mata, só que nós não acompanhamos isso diariamente, como está sendo feito agora – pondera.
(Zero Hora, 20/07/2009)