Estudo do Ministério da Saúde não é específico para o subtipo H1N1 do vírus
A pandemia de gripe provocada pela nova variante do vírus A H1N1 poderá atingir entre 35 milhões e 67 milhões de brasileiros ao longo das próximas cinco a oito semanas. De 3 milhões a 16 milhões desenvolverão algum tipo de complicação a exigir tratamento médico e entre 205 mil e 4,4 milhões precisarão ser hospitalizados. Esses cenários estão na terceira versão do documento "Plano Brasileiro de Preparação para uma Pandemia de Influenza", publicado em abril de 2006 pelo Ministério da Saúde. Trata-se de um modelo matemático estático criado por epidemiologistas com base no perfil de pandemias anteriores.
Por ser um esquema genérico e não um estudo específico para o atual vírus, são necessários alguns cuidados ao extrapolá-lo para o presente surto. É possível que alguns dos pressupostos contidos no modelo não valham para o H1N1, cujos parâmetros de transmissão e morbidade ainda não são bem conhecidos, como explicou Eduardo Hage, diretor de vigilância epidemiológica da Secretaria de Vigilância em Saúde do ministério. Os cenários pandêmicos foram elaborados três anos atrás, quando os técnicos estavam preocupados com a ocorrência de casos da gripe aviária (H5N1), que não chegou a adquirir transmissibilidade entre humanos.
A partir do modelo básico, eles simularam mil pandemias potenciais distribuindo valores arbitrários para os seguintes parâmetros: taxa de ataque (transmissão), taxa de complicação (exigência de algum tipo de tratamento médico), taxa de agravamento (casos que exigem hospitalização) e a taxa de óbito. O cenário mais otimista descrito acima é aquele que resultou no menor número de mortes. Caracteriza-se por transmissibilidade e virulência relativamente baixas e boa eficácia dos tratamentos. Já a hipótese pessimista contou com altos índices de transmissão e mortalidade, além de baixa eficiência nas terapias.
Há também um cenário intermediário, pelo qual a pandemia afetaria 49 milhões de brasileiros, dos quais 6,7 milhões experimentariam complicações e 900 mil iriam parar nos hospitais. O documento do ministério não explicita a taxa de óbitos para cada cenário. Para o estudo, foram consideradas as diferenças demográficas e a rede de atendimento dos Estados.
Segundo Hage, a boa notícia é que, pela pouca literatura até aqui disponível, o H1N1 apresenta taxas de transmissão e letalidade iguais ou apenas um pouco maiores do que as da gripe sazonal. Se esses parâmetros de fato se confirmarem, estamos mais perto do cenário otimista do que do intermediário ou do pessimista. A sensação de que a situação se agrava a cada dia é explicada pelo modelo. Epidemias de influenza em grandes centros urbanos se caracterizam pelo início abrupto, atingem seu pico em duas ou três semanas e se prolongam até completar cinco a oito semanas. Isso significa que os números ainda vão piorar antes de melhorar.
Rede hospitalar
O impacto que isso terá sobre a rede hospitalar é incerto. No cenário mais benigno seriam necessárias 205 mil hospitalizações ao longo de toda a epidemia. De acordo com o Datasus, em 2005 havia 443 mil leitos hospitalares disponíveis. O problema é que a distribuição dessas vagas não é uniforme. Outra preocupação diz respeito à crônica carência de leitos de UTI. O modelo estima que de 10% a 40% da população internada vai requerer cuidados intensivos.
(Por Hélio Schwartsman, Folha de S. Paulo, 19/07/2009)