O risco de extinção comum entre animais silvestres ronda também alimentos. Sabores ainda presentes na mesa dos brasileiros e que podem desaparecer nas próximas décadas apesar de sua viabilidade econômica e potencial produtivo. De acordo com a organização internacional Slow Food, 13 produtos nacionais estão na Arca do Gosto, catálogo que documenta artigos gastronômicos candidatos a cair no esquecimento, entre os quais dois bem populares no Sul do país: o pinhão e a bergamota Montenegrina.
Para os consumidores gaúchos, é difícil acreditar que a variedade Montenegrina possa sumir um dia. Encontrada em abundância em feiras, beiras de estrada, sinaleiras e supermercados, a fruta ocupa a maior parte da área com bergamota no Rio Grande do Sul. De acordo com a Emater, dos sete mil hectares cultivados, quatro mil têm a variedade. Segundo Roberta Marins de Sá, da comissão da Arca, ela está ameaçada devido à baixa variabilidade genética dos espécimes.
A variedade não irá sumir, mas pode deixar de existir com suas características originais se não forem preservadas as descendentes da planta mãe, que não existe mais. 'A citricultura tem uma variabilidade grande, as mutações ocorrem com frequência e naturalmente pelo cruzamento entre espécimes', explica o agrônomo da Emater Derli Paulo Bonini. Neste caso, há formas de preservação, como a formação de um banco de germoplasma para conservar o material genético. Alguns movimentos neste sentido foram desencadeados no Vale do Caí, que tem na citricultura a principal fonte de renda rural. O secretário da Agricultura de Montenegro, Paulo Veríssimo, determinou a formulação de um projeto de coleta de material genético das plantas filhas a ser apresentado à Câmara de Citricultura da região no fim do mês.
Seis filhas da planta original estão na propriedade de familiares de João Edvino Derlam, descendente de alemães que descobriu a variedade em 1940 em Montenegro, no Vale do Caí, e providenciou o desenvolvimento das primeiras mudas.
De acordo com Cilon Keul, genro do falecido Edvino, a variedade tem vantagens comerciais, especialmente para exportação, como durabilidade de 30 dias após beneficiada. Segundo o responsável técnico da Ecocitrus, Daniel Butembender, a Montenegrina está em expansão entre os cem associados, que colheram 1,6 milhões de quilos em 2008.
(Por Antônio Sobral, Correio do Povo, 19/07/2009)