A concretagem da primeira casa de força da Usina Hidrelétrica de Santo Antônio, no Rio Madeira, terá início nesta sexta (17/07). Uma fábrica de cimento da empresa Votorantim será instalada na área das obras e atenderá também a Usina de Jirau e da própria cidade de Porto Velho, que está se adaptando aos impactos dos dois empreendimentos. A capital e o estado de Rondônia receberão algo em torno de R$ 50 milhões, por ano, pelos royalties da energia gerada pelas águas do Madeira.
Os números das obras de Santo Antônio impressionam: cerca de 12 mil trabalhadores, 800 mil toneladas de cimento, 138 mil toneladas de barras de aço e um investimento de R$ 13 bilhões. A usina vai gerar 3.500 megawatts/hora (MW/h) de potência instalada – e cerca de 2.200 MW/h de energia assegurada. É o suficiente para abastecer 11 milhões de residências ou cerca de 30 milhões de pessoas.
A tecnologia utilizada, de acordo com o diretor do Consórcio Santo Antônio Civil (Csac), Mauro Lúcio Pinheiro, não é nova. Consiste em um sistema de turbinas horizontais que utiliza a força de vazão do rio para gerar a energia, ao contrário do modelo mais comum no Brasil, que utiliza, em geral, a força da queda de grandes barragens.
“Esse modelo é muito utilizado na Europa e já é usado em algumas usinas no Brasil. O que nós conseguimos foi aumentar a capacidade de geração de cada turbina, de cerca de 65 MW/h para 72 Mw/h”, explica. Serão 44 turbinas do tipo bulbo, como é chamado esse modelo de equipamento, que também é conhecido por ser mais ecológico. “A turbina deixa passar todo o sedimento fino do rio. Além disso, com ela, nós não precisamos represar grandes quantidades de água, fazer barragens que alagam áreas imensas.”
A barragem da Usina de Santo Antônio terá cerca de 14 metros de altura. Itaipu, para efeito de comparação, tem cerca de 140 m. A força das águas do Madeira já chegou a 48 mil metros cúbicos por segundo (m³/s), na maior cheia registrada no rio. O São Francisco, por exemplo, teve, no máximo, 4 mil m³/s, em sua maior cheia.
Para atender às exigências ecológicas, o projeto também reutiliza todo o material que é revolvido pelas obras. Ou seja, todas as rochas e a terra, retiradas nas escavações, são utilizadas nos aterros e na fabricação do cimento, evitando a sobra de dejetos que ficariam às margens com o fim das obras. “Esse ano, nós ainda vamos instalar uma fábrica de reciclagem aqui no canteiro de obras, de modo que todo o lixo produzido aqui, óleo, estopas não sairá daqui”, conta Pinheiro.
Outra preocupação com o meio ambiente ainda não foi resolvida: o que fazer com os detritos sólidos maiores que descem naturalmente pelo rio. Estima-se que cerca de 1.600 troncos desçam diariamente pelo leito. “O rio não é chamado de Madeira à toa”, diz o presidente da concessionária que irá gerir a usina quando estiver pronta, Roberto Simões.
Segundo ele, esse é um problema para os construtores da Usina Hidrelétrica de Jirau, que está, geograficamente, posicionada acima da Usina de Santo Antônio. “Eles estão fazendo um estudo sobre como reter esses troncos. O contrato prevê que eles não podem ser devolvidos ao rio, nem utilizados com fins lucrativos. Nós estamos auxiliando nesse estudo porque nos interessa, mas ainda não se sabe se a retenção vai causar impactos ao ecossistema do rio”, explica Simões.
Os gestores da obra explicam, ainda, que outras questões ambientais estão sendo analisadas. Eles estão monitorando, por exemplo, o comportamento de cinco espécies de bagres do Madeira, que são muito importantes economicamente na região. Segundo o engenheiro Carlos Hugo Araújo, esses peixes têm o hábito de descer o rio quando jovens e, depois, sobem de novo. “Nós estamos observando esse comportamento para construir passagens que garantam que o peixe consiga se movimentar no rio”, explica.
Araújo minimizou o episódio no qual morreram milhares de peixes, quando estavam sendo transportados das ensecadeiras para o rio. “Na época, falou-se em 11 mil toneladas. Mas a maior parte foi congelada a pedido do Ibama. Perderam-se 5 mil toneladas de peixes. Mas nós transportamos mais de 100 mil toneladas. Então, acho que 5% é uma perda tolerável, tendo em vista a complexidade desse procedimento”, justificou. No episódio, que aconteceu em dezembro de 2008, os peixes estavam sendo retirados de uma área na margem direita do rio, que foi isolada e seca para as obras. Devido a um problema na oxigenação da água, os animais não resistiram ao procedimento.
(Por Mariana Jungmann, com edição de Lana Cristina, Agência Brasil, 16/07/2009)