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cana-de-açúcar bioenergia / agroenergia
2009-07-17

Os projetos de cogeração de energia a partir do bagaço de cana prometiam, no ano passado, tornarem-se uma importante fonte para a matriz energética do país. Por enquanto, ficou só na promessa. A expectativa das empresas de açúcar e álcool do país era colocar no mercado energia equivalente a um complexo do Madeira (um total de 6.000 MW). Mas o que é comercializado hoje por cerca de 50 usinas, de um total de 400 no país, equivale a apenas um décimo desse potencial. E além disso, até mesmo os projetos vendidos no leilão do governo federal no ano passado passam por dificuldades.

Mergulhadas em uma profunda crise financeira, as usinas sucroalcooleiras do país estão com seus projetos de cogeração comprometidos. O BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social), que é a principal instituição financeira de fomento para a cogeração, fechou as torneiras. "As usinas estão com risco muito alto", afirmou uma fonte do BNDES, acrescentando que o banco está mais criterioso para liberar financiamentos, inclusive aos projetos que já estão em andamento.

"Entre 2005 e 2006, durante o boom de investimentos do setor, com novos projetos de usinas, que contemplam cogeração, os balanços de boa parte das empresas não ofereciam riscos. Desde o ano passado, o cenário mudou muito", afirmou uma fonte de mercado. "O crédito às usinas está limitado. Os prejuízos acumulados por elas nos últimos balanços aumentaram a classificação de risco delas", afirmou a mesma fonte. Antes da crise, o setor projetava investimentos nesta área de cerca de R$ 4 bilhões nos próximos anos.

E não foi só o BNDES que fechou as torneiras. As grandes empresas de geração de energia do país, que no ano passado anunciaram fortes investimentos em cogeração, também adiaram seus planos. O presidente da EDP Energias Renováveis, Miguel Setas, disse recentemente que a biomassa não é mais neste momento prioridade em função da conjuntura econômica. A CPFL, que lançou no ano passado a CPFL Bioenergia para entrar no negócio de cogeração, só anunciou um investimento até agora. Elas está prestes a fechar outro, mas os negócios caminham devagar.

A grande questão é que esses investimentos precisam ser feitos em parcerias com o setor sucroalcooleiro. O consultor Paulo Siqueira Costa, da TK Consultores, lembra que há hoje 50 usinas ou destilarias abertamente disponíveis para venda ou para encontrar um sócio estratégico. Isso dá a dimensão da dificuldade de investimentos desses empresários.

No leilão de reserva realizado pelo governo no ano passado, 31 usinas venderam 548 MW médios de energia a partir do bagaço de cana (o que equivale a 1.096 MW de potência instalada, considerando que a usina produz energia somente no período de seis meses de safra). Do total vendido naquele leilão, entre 30% e 40% corre o risco de não ir para o sistema no prazo acordado. "Temos um caso oficial de desistência, que é o da Tropical Bionergia [controlada pela British Petroleum], mas há outros projetos que correm o risco de não saírem do papel", afirmou uma fonte do setor.

Parte das usinas vendidas em leilão pretende negociar mais prazo com o governo. As primeiras entregas teriam de começar já em 2010. Mas além da dificuldade com os financiamentos, e capital próprio escasso, alguns projetos enfrentam também problemas na obtenção de licenças ambientais.

O grupo Cosan, maior companhia global de açúcar e álcool, está com os seus projetos de cogeração em dia, disse Pedro Mizutani, vice-presidente geral. "O que poderá acontecer é um replanejamento dos projetos não incluídos nos leilões por conta da demora da liberação dos recursos do BNDES", afirmou. A Cosan prevê investir R$ 2 bilhões em cogeração de energia nos próximos anos.

Marcelo Nishida, da consultoria F&G Agro, de Ribeirão Preto (SP), pondera que a crise afetou substancialmente os projetos das usinas, mas não inviabiliza o produto. "Há aquelas que estão tocando seus projetos, independentemente da crise." Além disso, Onório Kitayama, diretor da Coomex, diz que o adiamento dos projetos não deverá afetar o abastecimento de energia, mas reconhece que a imagem do setor fica desgastada.

"O governo joga com a sorte desde 2003. Houve riscos de apagão nos últimos anos, mas no curto prazo não há mais", disse Adriano Pires, diretor do Centro Brasileiro de Infraestrutura (CBIE). Segundo ele, a crise do setor sucroalcooleiro é circunstancial. "Se o governo tivesse negociado preços mais realistas, talvez hoje a situação seria outra", disse.

(Por Mônica Scaramuzzo e Josette Goulart, Valor Econômico, 17/07/2009)


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