A Companhia de Saneamento do Paraná (Sanepar) está investindo R$ 2,5 milhões na Estação de Tratamento de Esgoto (ETE) Atuba Sul, em Curitiba, para gerar energia elétrica e térmica a partir do gás metano e também para fazer o reaproveitamento da água, um dos mais volumosos subprodutos do tratamento do esgoto.
O presidente da empresa, Stênio Jacob, diz que a companhia está buscando alternativas para reduzir a emissão de gases de efeito estufa e também os custos com energia elétrica. Os estudos apontam que essa unidade poderá deixar de emitir cerca de 18 mil toneladas anuais de gás carbônico e economizar aproximadamente R$ 360 mil por ano em energia elétrica. Já a água, completa, após passar por novo tratamento, poderá ser usada em instalações industriais, irrigação agrícola, de grama e de jardins, paisagismo e ainda na lavagem de ruas.
O processo mais adiantado é o de reuso da água. As obras, que consumiram R$ 1,3 milhão, já estão concluídas. A estação onde será feito o tratamento está pronta e ainda este mês devem ser concluídos o laboratório, as instalações elétricas e colocados em teste os equipamentos de tratamento, segundo Jacob. Inicialmente serão tratados 15 litros por segundo do efluente. O tratamento é feito com ozônio e também será utilizado carvão ativo granulado, para retirar os compostos presentes no efluente. Em laboratório, serão pesquisadas, a partir de julho, as condições de tratabilidade para essa água e as complementações necessárias. Jacob explica que a produção de água de reuso vai obedecer a demanda, no início, e por isso não está definido o volume total a ser tratado.
De acordo com o presidente da Sanepar, durante as pesquisas, a produção dos 15 litros por segundo de água de reuso será consumida na ETE Atuba Sul. Ela será usada no próprio processo: na lavagem de pisos e no preparo da solução dos produtos químicos para tratamento dos esgotos sanitários, por exemplo. Os técnicos da Sanepar também planejam pesquisar outros procedimentos, como retirar compostos como amônia e cloreto para permitir a utilização mais nobre desta água, que seria as lavagens de pisos, combate a incêndio, uso industrial e irrigação de jardins, por exemplo.
Jacob diz que a utilização externa dessa água só se dará após serem realizados todos os ensaios de tratabilidade que comprovem um domínio completo sobre o novo processo de tratamento adotado. A Sanepar ainda não definiu seu plano de trabalho em relação à produção excedente. As questões comerciais, de acordo com o presidente, estão em estudo.
Energia
O sistema para o aproveitamento energético deve entrar em operação em março de 2010, informa Jacob. Os projetos executivo, estrutural e elétrico estão sendo contratados e o investimento previsto é de R$ 1,2 milhão. “Com o aproveitamento energético do biogás devemos gerar energia elétrica suficiente para tratar todo o esgoto que chega à estação, e energia térmica para secar o lodo gerado no processo de tratamento do esgoto”, afirma o presidente. “A nossa expectativa é que a ETE Atuba Sul se torne autossuficiente em energia elétrica e, no futuro, possa gerar excedente a ser comercializado para a Copel”. A estação consumiu, no ano passado, uma média de 90 mil kWh/mês.
Um projeto semelhante foi implantado na Estação de Tratamento de Esgoto Ouro Verde, em Foz do Iguaçu. Desde o ano passado, aquela unidade produz energia elétrica, inclusive com certificação da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel). A energia produzida e consumida pela ETE supera a necessidade. Por isso, a partir deste mês o excedente será vendido para a Copel.
Unidade trata 800 litros por segundo
A produção de energia elétrica e térmica e o reaproveitamento da água serão feitos, num primeiro momento, somente da Estação de Tratamento de Esgoto Atuba Sul. A Companhia de Saneamento do Paraná (Sanepar) tem seis estações em Curitiba. Se for considerada toda a região metropolitana, são 25 unidades.
A ETE Atuba Sul trata cerca de 800 litros de esgoto doméstico por segundo, correspondentes a 370 mil habitantes. O tratamento é feito pelo processo de digestão anaeróbia e um dos subprodutos é o biogás. Trata-se da mistura de vários gases, sendo o mais importante o gás metano. Ele tem alto poder calorífico, podendo ser utilizado como combustível para gerar energia térmica, mecânica ou elétrica, e é um dos principais gases de efeito estufa, causador do aquecimento global.
A ETE Atuba Sul produz diariamente cerca de 4 mil metros cúbicos de metano, e aproximadamente 840 toneladas de lodo por ano. O lodo, após higienizado, é aplicado na agricultura. Com a instalação do sistema de secagem térmica de lodo, por meio da queima do biogás, haverá redução nos gastos com higienização e transporte do lodo.
Efluente pode ser usado na agricultura
Ao saber do projeto de reaproveitamento da água da Estação de Tratamento de Esgoto Atuba Sul, da Companhia de Saneamento do Paraná (Sanepar), o professor do Departamento de Hidráulica e Saneamento da Universidade Federal do Paraná (UFPR) Miguel Mansur Aisse comentou que é uma “surpresa agradável”.
O efluente de boa qualidade pode ser usado na irrigação agrícola e urbana, em indústrias e no controle da poeira das ruas. Para Aisse, o que precisa ser muito bem avaliado é o aspecto econômico da distribuição dessa água. Segundo ele, a Sanepar deverá determinar um raio de ação viável e definir um ou mais usuários. “É preciso identificar até que distância vale a pena distribuir”, diz ele. Essas questões só serão consideradas pela companhia de saneamento quando ela tiver domínio completo sobre o novo processo de tratamento.
Sobre a produção de energia, Aisse menciona que, quanto mais diversificada a matriz energética, menos frágil ela é. Ele lembra que a busca pelas fontes não convencionais sempre aparece em momentos de crise. É o que aconteceu na década de 1980, com a crise do petróleo. Agora, completa, existe também a preocupação ambiental. “O metano é 21 vezes mais comprometedor para o clima do que o carbono”, cita o professor. Para Aisse, o uso interno na energia produzida é mais interessante porque evita gastos com o transporte. Mas, se houver excedente, o ideal é a distribuição pela companhia de energia, no caso a Copel, sugere ele.
(Por Viviane Favretto, Gazeta do Povo, 15/07/2009)