O Mar da Galileia não é mais fonte segura de água para Israel. O grande lago por onde Jesus caminhou, segundo a Bíblia, e que é responsável por 25% do abastecimento da população de Israel está com o nível próximo ao limite por conta da pouca chuva no último inverno. Por segurança, o governo decidiu reduzir a retirada de água do local este ano e colocar limite no consumo das famílias, acima do qual será cobrada uma taxa extra.
O nível do lago está hoje 213,55 metros abaixo do nível do mar, sendo que o limite é 213 metros abaixo. "O nível mais alto é 208,8 metros abaixo do nível do mar, quando a barragem na parte sul do lago é aberta, permitindo que a água corra pelo rio Jordão. A barragem foi aberta pela última vez durante o inverno de 2003 e 2004", diz Avihay Druckmann, gerente de projetos da Mekorot, empresa pública de saneamento de Israel.
Para evitar que o nível do lago caia ainda mais, hoje a água está sendo usada apenas para abastecer a cidade de Tiberias, às margens do lago, com 40 mil habitantes. Com menos água garantida para o sistema, o governo estabeleceu neste mês que até novembro as famílias com até quatro pessoas deverão pagar uma taxa adicional de US$ 6 por metro cúbico (m3) para o consumo acima de 16 m3 por mês. Hoje a população paga uma média de US$ 1,5 por m3. Para cada morador adicional na casa, o limite aumenta em 4,2 m3 por mês.
Foto Destaque
De novembro até o começo de 2010 o limite fica menos rígido, passando para 18 m3 para até quatro pessoas, mais 5 m3 por morador adicional, e após esse período para 12 m3 para casas com até dois habitantes e 15 m3 para com três. Hoje o consumo médio mensal das famílias é de cerca de 5 m3 por pessoa, o que dá 20 m3 por mês numa família de quatro pessoas. Assim, cerca de 20% do consumo ficará sujeito a uma cobrança extra com o objetivo de reduzir o volume consumido. Segundo Druckmann, a intenção é baixar em cerca de 10% a 15% o consumo doméstico de água. A medida deve entrar em vigor nos próximos dias.
Segundo Oded Distel, diretor de investimentos internacionais do Ministério da Indústria, Comércio e Trabalho de Israel, a restrição sobre o consumo de água é temporária. Segundo ele, até 2013 o abastecimento será reforçado com a entrada em operação de mais usinas de dessalinização, um investimento de US$ 2 bilhões. "Estamos investindo em dessalinização para ter mais segurança. Hoje o consumo tem que ser reduzido, mas é apenas para os próximos anos, até que as usinas fiquem prontas", diz.
A água retirada do mar e dessalinizada é responsável por 21% do abastecimento em Israel, uma produção de 340 milhões m3 por ano. Com a entrada de novas usinas até 2013 a capacidade de produção aumentará em 100 milhões m3 de água por ano, o equivalente à produção da maior planta de dessalinização do país, na cidade de Ashkelon. O investimento será realizado pelo setor privado, que depois venderá a água para a Mekorot. "Ainda não sabemos dizer quando, mas um dia não vamos mais usar a água do Mar da Galileia", diz Distel. O restante do abastecimento de água do país vem de fontes subterrâneas (32%) e do reuso (22%). A busca por não depender mais do Mar da Galileia também tem uma importância política. Além de estar com o nível próximo de seu limite, o lago é alimentado pelo Rio Jordão, cujos afluentes estão em território do Líbano e da Síria, países em conflito com Israel.
A indústria não deve sofrer restrição ao consumo, segundo Distel, por ser um setor importante para a economia do país. "Para a indústria há incentivos para ganhar mais eficiência no uso da água." A agricultura está sujeita à redução da sua cota de água, o que força o setor a se adaptar, investindo em culturas que demandam menos água, como no passado ocorreu com a laranja, que, conta Distel, teve suas exportações reduzidas porque o benefício econômico não compensava o esforço de suprir a sua demanda por água.
Além da taxa que será cobrada da população, Distel diz que é importante manter as campanhas de conscientização. "Aqui ninguém vai para a cadeia se lavar o seu carro com mangueira... ainda! (risos) Mas o consumo consciente é uma questão de educação, de ver um pai ficar sem graça de fazer isso em frente dos filhos. As pessoas estão cientes dessa responsabilidade, é uma discussão constante."
(Por Samantha Maia*, Valor Econômico, 17/07/2009)
* A repórter viajou a convite do Escritório Econômico de Israel no Brasil