Imagem enviesada da floresta nos meios de circulação cultural europeus favorece abordagem paternalista ou imperialista sobre a preservação, diz italiano em mesa-redonda durante a 61ª Reunião Anual da SBPC
A visão estereotipada que a maioria dos europeus tem da Amazônia prejudica o apoio internacional à construção de políticas de desenvolvimento sustentável para a região. Embora parta de alguns fatos ou impressões verdadeiras, a imagem da Amazônia nos grandes meios de circulação cultural (mídia, filmes, livros etc.) da Europa tende a assumir caráter mítico.
Segundo o jornalista e especialista em sociologia da ciência Yurij Castelfranchi, doutor pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), essa visão está longe da realidade e abre espaço para uma abordagem paternalista ou imperialista dos países europeus em relação à preservação da Amazônia. Castelfranchi é italiano e apresentou sua experiência na mesa-redonda “Amazônia: um olhar externo estrangeiro”, na Reunião Anual da SBPC, nesta terça-feira, dia 14. Por dez anos, o jornalista viajou pela Amazônia, produzindo reportagens e livros.
Numa pesquisa de análise de conteúdo de grandes jornais europeus, Castelfranchi constatou a predominância de discursos estruturados em clichês, normalmente maniqueístas. Assim, a Amazônia é normalmente representada de forma ambivalente, em estórias com bons e maus, heróis e vilões. “Quando na mídia se vê aparecendo elementos e histórias, muitas vezes repetidos, como clichês, em narrações que se representam em opostos, é sinal de que aquele lugar não é um lugar, mas um símbolo. Na Europa, a Amazônia é símbolo”, afirmou Castelfranchi.
Isso acaba por deixar de fora das imagens construídas sobre a Amazônia uma série de abordagens sobre a região. Segundo Castelfranchi, nada é dito na imprensa europeia sobre os 25 milhões de habitantes não índios da região amazônica e faltam notícias sobre os debates políticos brasileiros sobre a Amazônia – assim como fica de fora quase tudo que é feito aqui em prol do desenvolvimento sustentável.
(Por Vinicius Nader, Jornal da Ciência, 15/07/2009)