O grupo de varejo Wal-Mart está para lançar um programa de etiquetas com classificação ambiental que pode redefinir a concepção e a fabricação de produtos vendidos ao redor do mundo - ou se transformar numa grande perda de tempo. Nesta quinta (16/07), a maior varejista do mundo informará aos fornecedores que eles terão de calcular e informar todos os custos ambientais da fabricação de seus produtos, de modo que ela possa transformar os dados em um índice que os consumidores lerão nas etiquetas de preços, de camisetas a televisores.
Antes considerado um vilão ambiental, o Wal-Mart informou que a iniciativa, a ser desenvolvida ao longo de vários anos, fixará metas rígidas de redução do consumo de energia, corte do desperdício e lançamento de produtos sustentáveis. Alguns de seus esforços já tiveram amplo impacto - desde a venda de mais de 100 milhões de lâmpadas fluorescentes, de menor consumo, até a criação de detergentes de roupas concentrados, que usam embalagens menores e menos água.
Vai levar anos para que os consumidores vejam os primeiros selos. A empresa estimou que isso possa levar cinco anos ou mais, embora especialistas externos envolvidos no projeto tenham dito que ele pode começar talvez já em 2011. Não se sabe como as etiquetas serão ou o que tentarão exatamente ilustrar. O impacto mais imediato da iniciativa será sentido por seus 100.000 fornecedores, que mais uma vez arcarão com os custos das exigências ambientais da empresa, numa época em que muitos deles enfrentam dificuldades econômicas. O grupo Wal-Mart informou ser prematuro estimar o custo para os fornecedores. A fabricante de roupas esportivas Patagônia, uma das pioneiras na redução da pegada de carbono de seus produtos, informou que seus esforços têm custado caro, mas não quis fornecer números.
A varejista insiste que não haverá exceções. Perguntado sobre o tipo de relacionamento que o Wal-Mart terá com os fornecedores que não apresentarem os dados requeridos, o vice-superintendente de sustentabilidade da empresa, Matt Kistler, disse, sem rodeios: "Provavelmente não teremos nenhum."
Outros esforços pioneiros para levar informação ambiental aos consumidores geraram controvérsia e especialistas do setor reclamaram que a "eco-retórica" foi de muito pouco uso prático. Len Sauers, vice-presidente mundial de sustentabilidade da fabricante de bens de consumo americana Procter & Gamble, disse que as etiquetas precisam ser cientificamente precisas e, ainda assim, compreensíveis para os consumidores. Ele disse que esforços similares na Europa "têm sido muito difíceis, porque não foram de fato oferecidas informações que façam sentido para o consumidor".
Executivos do Wal-Mart disseram que planejam desenvolver etiquetas que sejam facilmente entendidas pelos consumidores. "Eu imagino o dia em que o cliente olhará para um produto, virará uma etiqueta e saberá que grau de sustentabilidade ele realmente tem", disse John Fleming, diretor de mercadorias do Wal-Mart. "Seria como ler a tabela de nutrientes e calorias de hoje. Mas é preciso adotar um pouco de padronização."
Pessoas a par dos planos da empresa disseram que o Wal-Mart pretende se antecipar a uma potencial regulamentação ambiental por parte do governo dos Estados Unidos - regras relacionadas a gases do efeito estufa já estão surgindo no Reino Unido e no Japão - e criar um padrão em seus próprios termos que a indústria varejista possa adotar para informar o índice "verde" dos bens que vendem. O Wal-Mart nega estar tentando antecipar-se à regulamentação. Fleming, que é um dos líderes do esforço, disse que queria melhorar a qualidade dos produtos oferecidos pela empresa, cujo faturamento somou US$ 401,2 bilhões no ano passado.
O diretor-presidente do Wal-Mart, Mike Duke, lança formalmente o projeto hoje, em discurso a empregados e fornecedores. O executivo reivindicará "um novo padrão para o varejo no século XXI" e pedirá que os mais de 100.000 fornecedores mundiais da empresa deem informações sobre uso de água e emissões de dióxido de carbono até outubro. Um questionário de 15 itens pede informações sobre desperdício, uso de recursos e envolvimento da comunidade.
A meta da empresa é criar o que chama de índice amplo de sustentabilidade, que medirá o impacto ambiental de cada produto vendido pelo Wal-Mart. Por exemplo, quanto cada um deles contribui para o aquecimento global, se é feito com químicos tóxicos e se contém madeira cortada de forma que reduz as reservas naturais.
O índice classificará os produtos não apenas em função dos custos de produção, mas também pelo impacto deles durante seus ciclos de vida. O pessoal de compras da empresa será julgado, em parte, pela capacidade de melhorar, ao longo do tempo, a classificação dos produtos que adquire dos fornecedores. A informação estará disponível a todos, inclusive varejistas rivais, na esperança de que isso ajude a estabelecer um padrão. Embora os assessores do Wal-Mart vislumbrem fiscalizações a locais e análise de produtos para determinar o que eles contêm, eles dizem que a transparência é o que, de fato, impedirá potenciais fraudes dos fornecedores.
(Por Miguel Bustillo, com colaboração de Ann Zimmerman, The Wall Street Journal / Valor Econômico, 16/07/2009)