Banco de fomento libera mais de R$ 6,2 bilhões para sete negócios que enfrentam investigações e questionamentos. Entre as empresas estão frigoríficos e usinas de açúcar e álcool; BNDES afirma estudar mecanismos para prevenir ocorrências
Mais de R$ 6,2 bilhões saídos do BNDES nos últimos dois anos tiveram como destino sete negócios em que a dor de cabeça foi o maior retorno obtido pelo banco. São empresas que foram obrigadas a dar, nos últimos meses, explicações por práticas sociais, ambientais ou financeiras não condizentes com os manuais de boa gestão. Esse dinheiro equivale a 10% do que o banco destinou à indústria no período. Corresponde ao dobro do que o setor de agricultura recebeu neste ano.
Criar instrumentos para melhorar a análise das empresas financiadas é um dos maiores desafios do banco atualmente, neste momento em que dispõe de orçamento recorde e mostra disposição para financiar fusões e aquisições. O BNDES disse que estuda novos mecanismos para prevenir ocorrências, mas reconhece não ter como obrigar empresas que não tenham culpa comprovada pela Justiça a devolver dinheiro. E afirmou que, nos casos em que o dinheiro foi concedido após as investigações, não havia culpa comprovada. Desde março, três frigoríficos, que levaram R$ 4,85 bilhões do banco, estiveram em evidência.
Desmatamento
Segundo o Ministério Público Federal no Pará, o Bertin, com R$ 2,5 bilhões em financiamento, era suspeito de comprar carne de pecuaristas que atuavam em área desmatada. Na semana passada, a empresa assinou um termo de ajustamento de conduta em que se comprometeu a não comprar carne irregular e apoiar práticas contra o desmatamento. Em 2007, o BNDES investiu R$ 1,4 bilhão no JBS-Friboi e se tornou seu sócio. A empresa é investigada pelo Ministério Público em Rondônia por suspeita de corrupção e de fraude de embalagens.
O frigorífico Independência se habilitou a receber R$ 450 milhões em novembro. Quatro meses depois, entrou em recuperação judicial. Depois disso, o BNDES suspendeu a transferência de R$ 200 milhões que ainda estavam pendentes.
Usinas
No último ano, o BNDES deu forte apoio ao setor sucroalcooleiro: R$ 3,5 bilhões para 15 usinas. A decisão alinha-se com o discurso em prol do uso do etanol que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva leva ao mundo. Alguns projetos renderam dissabores: R$ 2,1 bilhões foram destinados a quatro usinas recentemente envolvidas em suspeitas de "trabalho degradante", segundo o Ministério Público do Trabalho e a Advocacia Geral da União.
Com usinas no Centro-Oeste e em São Paulo, as empresas Brenco, Iaco, Rio Claro Agroindustrial e Agro Energia Santa Luzia - as duas últimas, do grupo Odebrecht - foram investigadas por oferecer instalações precárias -como refeitórios e banheiros em más condições de uso- e desrespeitar a legislação trabalhista. Todas fecharam termos de ajustamento de conduta se comprometendo a corrigir as irregularidades. Com o acordo, os processos são arquivados. Mas a Advocacia Geral da União quer incluir a Brenco na lista de "empresas sujas" do Ministério do Trabalho. Para isso, tenta derrubar uma liminar obtida pela empresa.
(Por Samantha Lima, Folha de S. Paulo, 14/07/2009)