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amianto imprensa e meio ambiente
2009-07-15

Carta assinada por Fernanda Giannasi criticando a parcialidade e falta de ética do jornal Folha de São Paulo ao utilizar profissionais inexperientes para fazer propaganda travestida de de material jornalistico.

Senhor Ombudsman,
Absolutamente chocada com o teor da matéria "AMIANTO DRIBLA PROIBIÇÕES E PROSPERA EM MINA GOIANA", publicada no Caderno Dinheiro deste domingo (12.7.2009), é que me dirijo a este importante veículo de comunicação para manifestar meu mais contundente protesto e profunda decepção ao ver que um tema, tão caro para nós, e que envolve uma questão tão importante de saúde pública, é tratado tão leviana e superficialmente por estagiárias patrocinadas por grupo empresarial com fortes interesses nesta questão, como é o caso da Odebrecht, que inclui entre suas empresas a BRASKEM, que é a maior produtora de cloro-soda do país, utilizando tecnologia à base de amianto. Na atualidade a BRASKEM com outros 2 grupos empresariais do setor fazem um lobby fortíssimo em Brasília, tanto junto ao STF como no congresso nacional (em conjunto com a bancada da crisotila, assim denominados os deputados e senadores financiados em suas campanhas pela indústria do amianto) para impedir a aprovação de leis que proíbam o uso deste mineral cancerígeno. Quanto à Philip Morris nem precisamos comentar os problemas de saúde associados ao seu produto (o cigarro)! Parece que aqui se uniram os maiores lobbies pró-câncer do planeta para "patrocinar o estágio de inexperientes recém-formadas jornalistas", que podem estar atuando, indiretamente como "assessoras de imprensa".

As estagiárias, em questão, ouviram muitas pessoas, entre as quais me incluo, que as subsidiaram com muitas informações e provas robustas da grave situação de saúde que vive a população de Minaçu, amordaçada por medo do fechamento da empresa. Existe um verdadeiro pacto de silêncio, que qualquer leigo que vá àquela localidade percebe rapidamente. É um discurso repetido como um mantra na defesa do indefensável amianto.

Forneci-lhes dados do jurídico da própria empresa com a relação de seus doentes, mortos, processos judiciais e extrajudiciais, documentos estes que embasam, inclusive, ação do Ministério Público do Trabalho de Goiás contra a mineradora SAMA do grupo ETERNIT e nada disto é mostrado. As mesmas nos procuraram em nome do grupo Folha e, em momento algum, mesmo perguntadas por mim, disseram que seus estágios eram patrocinados por empresa com forte interesse na questão. Deram a entender que a Folha de SP é que bancava todo este trabalho, incluindo as despesas de viagem, e que o interesse em escrever sobre o amianto teria partido delas próprias, de ouvirem dizer, sem qualquer tipo de "influência" ou "encomenda". Estranhamos que um tema tão controverso pudesse ser delegado a tão novatas profissionais. Dedicamo-lhes, desde o primeiro contato, um grande tempo e atenção para que elas pudessem ouvir os dois lados e extrair a melhor informação para o leitor.

Mas não é isto que lemos nesta matéria que ocupa uma página toda num Caderno que está acostumado a lidar com o tema, produzindo excelentes matérias críticas e de profunda análise, que não combina com o que temos agora, por falta de orientação e supervisão, nesta publicação de hoje, já que a Folha sempre que o abordou fez com seu time de primeira grandeza, em especial jornalistas experientes do Caderno Dinheiro, tais como Claudia Rolli e Fatima Fernandes com grande bagagem profissional e que jamais cairiam numa esparrela como a que estamos nos defrontando agora, estampada na edição de hoje.

Não lhe parece estranho o enorme espaço dado na matéria a um prefeito cassado pela Justiça por improbidade administrativa, acusado que é de compra de voto, e que só retornou ao seu posto via uma decisão em caráter liminar? Ele se arrogando de autoridade técnica diz "que tudo que se fala contra o amianto é mentira". Onde está o contraponto?  E a menção desairosa à professora Lucia Marques, com quem as estagiárias estiveram pessoalmente, e que, na matéria em questão, é acusada de "louca", passando por cima de sua dor pela perda do amado pai, sem lhe darem ao menos o direito de responder. Não é estranho que  única voz discordante na matéria seja tratada como "louca" num julgamento sumário? Isto demonstra a total parcialidade com que trataram o tema amianto. Na matéria em FOLHAONLINE incluíram até foto do tal prefeito. Suas "pérolas" foram postas em destaque na versão impressa. Ingenuidade ou má fé? Casos como da professora Lucia não são exceção, como afirmado, e tampouco procede a afirmação de que "a maioria diz desconhecer". Depende de quem entrevistaram. Não foi por falta de indicações!

Há dados contraditórios na matéria quando afirmam que a empresa reconhece "aproximadamente cem doentes", quando nas últimas linhas é mencionado que a empresa realizou 3.500 acordos extrajudiciais. Será que as incautas jornalistas acreditam que a empresa seja tão generosa que, em plena crise econômica global e da própria sobrevivência de sua atividade, banida em mais de 50 países, esteja distribuindo dinheiro entre os seus ex-empregados para promover a tão sonhada justiça social?

As vozes discordantes não aparecem na matéria, não permitindo um debate honesto e ético sobre a questão - o consagrado direito do contraditório-, e lamentavelmente fatos totalmente irrelevantes são ali apresentados, até se repetindo, ocupando espaços preciosos do jornal, que se prestou a publicar, na verdade um informe publicitário ou release de assessoria de imprensa disfarçado de jornalismo investigativo.

Enviarei estas minhas críticas e sua resposta para nossos apoiadores, formadores de opinião, familiares e vítimas do amianto, dentro e fora do país, compartilhando esta nossa indignação para que decidam, como já estão fazendo meus familiares, se é este o jornal que lhes convém assinar, pois não está mais me parecendo que acidentes de percurso como a tal "DITABRANDA" sejam UM MERO ACASO.

Não dá mais para aceitar este tipo de "ingenuidade" jornalística ou qualquer nome que se dê a atitudes apologéticas a processos nocivos fadados ao desaparecimento, como é o caso do amianto e desta matéria infeliz, e que se utiliza de sofismas e do sofrimento de uma população abandonada pelo poder público, que não lhes dá qualquer outra opção de sobrevivência, para perpetuar uma tecnologia não mais aceita nas sociedades industriais desenvolvidas para fazer valer o determinismo de que "ruim com ele, pior sem ele".

Atenciosamente,
FERNNANDA GIANNASI
Coordenadora da Rede VIrtual -CIdadã pelo Banimento do Amianto para a América Latina
http://twitter.com/fergiannasi
http://www.abrea.org.br

(Contribuição por E-mail ao Ambiente JÁ, 14/07/2009)


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