O temor dos minaçuenses de que a mina de amianto seja fechada já fez com que um empreendimento imobiliário de R$ 20 milhões na cidade fosse cancelado antes mesmo de começar. Quando surge uma polêmica em torno do amianto, corre o boato de que a mineração pode ser proibida, e os investimentos desaparecem.
O empresário goiano Nildemar Franco Amaral Júnior, 40, pretendia construir um condomínio com 374 lotes na cidade. O projeto foi abortado quando uma sondagem com potenciais compradores revelou que poucos estavam dispostos a investir em imóveis. "Os próprios trabalhadores da empresa têm medo de perder o emprego."
Desde o início do ano, quando rumores sobre o fechamento da mina voltaram a circular pela cidade e se somaram à crise global, os preços dos lotes à beira do lago Cana Brava, principal área de lazer da cidade, caíram pela metade. Inseguros, muitos moradores evitam qualquer tipo de investimento. Há 15 anos em Minaçu, os comerciantes Aurora Duarte, 43, e Maurissane Duarte, 52, chegaram quando a cidade vivia dias promissores. Ela e o marido não pensaram duas vezes na hora de construir a casa e a loja na avenida Maranhão, a principal da cidade.
Hoje, não querem mais construir o andar de cima. Preferem apostar num ponto em Palmas (TO), onde o filho vai estudar. A exemplo de Aurora e Maurissane, toda Minaçu depende do dinheiro movimentado pela mina. Se a Sama fechar, Minaçu acabará, dizem os moradores. Foi o que aconteceu a Bom Jesus da Serra, na Bahia. A mina de amianto local foi explorada de 1940 até o descobrimento da jazida goiana, em 1962. Hoje, sem outra atividade, a economia da cidade está estagnada.
Em Minaçu, praticamente todo o comércio local defende a exploração do amianto. Em abril, 83 ônibus, pagos pela prefeitura e pela Sama, saíram da cidade para protestar a favor do uso do amianto em Brasília. Um deles foi ocupado apenas por funcionários da loja de roupas Goianinha, do comerciante Luiz Marques, 47.
Segundo os defensores do amianto, toda a polêmica a respeito do seu banimento é provocada por interesses comerciais de quem desenvolve e comercializa fibras alternativas.
"Por trás disso, com certeza tem alguma outra firma, que faz caixa d'água de plástico", diz a manicure Keila Costa, 29. A crença de que não haveria outra forma de a cidade sobreviver é alimentada, também, pelo fracasso de outras atividades econômicas. O cultivo de alho, abacaxi, mandioca e banana já foi estimulado pela prefeitura, mas não houve resultados significativos. A pecuária é restrita a pequenos produtores. "Escoar a produção é o problema", afirma o secretário de Administração do município, Alberto de Oliveira. No extremo norte de Goiás, Minaçu está fora da rota das principais rodovias que cortam o Estado. O isolamento eleva o custo para escoar a produção.
(Por ACC e EHC, Folha de Sao Paulo, 12/07/2009)