As empresas de celulose chegaram ao Rio Grande do Sul no início da década como a solução para a pobreza da Região Sul do estado. Com promessas de geração de emprego, desenvolvimento, enriquecimento para todos e apoio governamental irrestrito, as lavouras de madeira cresceram com a mesma rapidez e irresponsabilidade das licenças ambientais.
Patrocinando quantidade de meios de comunicação, as empresas de celulose blindaram pautas positivas. A estratégia estava bem armada até serem surpreendidas pela quebra do jogo econômico no qual se sustentavam.
As experiências do vizinho Uruguai não serviram de exemplo. A paisagem do pampa e as práticas econômicas mudaram. Produtores rurais trocaram rebanhos e lavouras de alimento pelas fileiras de árvores exóticas. O arrependimento atinge boa parte dessa população. As perdas pós-crise comprometem metas de produção e preços da matéria-prima para celulose. A biodiversidade já está ameaçada. Em alguns lugares do estado, areais se multiplicam. A desertificação do pampa já está em processo. O que fazer com hectares de tocos de eucalipto em terras secas? A retomada das tradicionais produções não receberá os subsídios e incentivos que teve o plantio de eucaliptos.
Com exceção das mulheres da Via Campesina, que nos últimos três anos, no Dia da Mulher, passam cercas e promovem derrubadas para chamar a atenção da sociedade, pouco se fala das consequências desta cultura. A intensidade da afiada seca pode não ser só resultado da falta de chuvas. A proliferação de tantas gripes e febres pode não ser só culpa do porco.
(Por Eduardo Seidl*, Jornal da Universidade - UFRGS, junho de 2009)
* Eduardo Seidl é fotógrafo do Correio do Povo e faz um trabalho de documentário dos movimentos sociais