O mercado de emissões de carbono está saudável, apesar da desaceleração da economia, mas uma lei relacionada às mudanças climáticas, em discussão no Senado dos Estados Unidos, vai decidir seu futuro, disse o diretor de meio ambiente do Barclays Capital.
A nova lei que o Senado dos EUA espera aprovar até o fim deste ano - vai ampliar o volume dos negócios em gás do efeito estufa e estimular o financiamento para novos projetos de energia limpa, embora boa parte desses recursos provavelmente vá ser investido no país, disse Louis Redshaw. "O mercado de carbono está com boa saúde, apesar da crise financeira e quedas dramáticas de preços em toda a parte", disse Redshaw à Reuters, em um entrevista recente.
O volume de negociações de emissões de gases poluentes subiu 124%, chegando a 4,1 bilhões de toneladas de dióxido de carbono na primeira metade de 2009 em relação ao mesmo período do ano passado, disseram os analistas da Point Carbon na semana passada. No entanto, o valor desse mercado cresceu somente 22%, passando a US$ 65 bilhões nos primeiros seis meses do ano, o que demonstra um aumento das especulações e uma queda nos preços das emissões de carbono.
Os preços da concessão no Benchmark European Union, negociado a 14,15 euros (US$ 19,68 dólares) na manhã de segunda-feira, estão 12% abaixo em 2009 e ainda mais de 50% abaixo dos valores recordes alcançados em julho passado (por volta de 30 euros). "Mais e mais compromissos de contrapartida estão envolvidos no mercado, em um indício de que as empresas estão avaliando os custos do carbono muito mais do que na fase 1 (de 2005 a 2007)", disse Redshaw. "Também houve aumento no número de intermediários e especuladores, o que conduz a maior liquidez...e, por fim, disso resulta um mercado eficiente na estimativa de preços."
Crise
Reconhecendo que o financiamento de projetos de energia limpa se desacelerou por causa da crise econômica mundial, Redshaw foi cauteloso quando indagado sobre se o mercado voltou a se reaquecer. "É difícil dizer de imediato se as coisas estão se aquecendo novamente, já que todo mundo está à espera de que os Estados Unidos deem a largada para que a próxima onda de investimento leve o mercado ao próximo nível", afirmou Redshaw.
A Câmara de Representantes dos EUA aprovou por estreita margem uma histórica lei sobre mudanças climáticas no fim do mês passado, que vai introduzir o mercado de carbono como uma ferramenta para ajudar a reduzir as emissões dos EUA em 17% até 2020 e em 83% até 2050, em relação aos níveis de 2005. Mas o comitê do Senado responsável pela legislação relativa ao clima adiou na semana passada a avaliação da lei por pelo menos um mês, deixando ao Congresso menos tempo para cumprir a meta do presidente Barack Obama de adotar legislação sobre a questão ainda este ano.
Compensações
Apesar de a lei dos EUA permitir que compensações de carbono sejam usadas para abatimento das metas a serem cumpridas, Redshaw disse que a demanda por compensações internacionais, definida pelo pacto climático do Protocolo de Kyoto - chamadas de Certificados de Redução de Emissões (CER,na sigla em inglês) -, provavelmente será baixa. "O ponto principal é que 50% do abatimento das emissões dos EUA possa vir de compensações, mas o que se esquece é que a demanda provavelmente será baixa", afirmou Redshaw, citando a previsão de fornecimento excessivo de permissão de emissões no mercado.
De acordo com o pacto de Kyoto, as empresas podem investir em projetos de energia limpa em países como China e Índia e, em troca, receber os certificados que podem ser usados para cumprir metas de emissão ou para venda com finalidade de lucro. "Cinquenta por cento não necessariamente se traduz em uma nova era do ouro para os CERs, em especial se o imenso setor agrícola, com potencialmente baixo critério de adicionalidade, for suprir o mesmo mercado."
Compensações agrícolas, um negócio potencial de bilhões de dólares, envolvem medidas como sequestro de dióxido de carbono pelo solo por meio de práticas de cultivo menos intensivas. Críticos dizem que fazendeiros já usam essa técnica há anos e, portanto, é improvável que leve à redução de emissões.
(Estadao.com.br / AmbienteBrasil, 14/07/2009)