A Marfrig Alimentos anunciou nesta segunda (13/07) a assinatura de um protocolo de intenções "em caráter irrevogável e irretratável" para arrendar a planta industrial do Extremo Sul, com capacidade para abater 400 cabeças de gado bovino por dia, no município gaúcho de Capão do Leão. O início da operação está previsto para o dia 1º de agosto e vai se estender durante 36 meses. O valor do negócio não foi informado.
O Extremo Sul é habilitado para exportar para a União Europeia, Rússia e Chile. Localizada a 51 quilômetros do porto de Rio Grande, a unidade vai fortalecer a "logística de exportação e a sinergia de abastecimento com a planta de abate de São Gabriel e a planta de produção de industrializados Pampeano, em Bagé", informou o Marfrig, que também produz carne de suínos, frangos e perus nas cidades gaúchas de Caxias do Sul, Roca Sales e Frederico Westphalen.
Segundo o diretor do Extremo Sul, José Alfredo Knorr, a unidade havia sido arrendada pelo frigorífico Mercosul desde o "fim de 2002 ou início de 2003" até maio deste ano. Em meados de 2008 os abates foram suspensos devido à baixa oferta de gado e a planta passou a fazer apenas desossa. Depois, paralisou também esse trabalho e limitou-se a operar a graxaria.
Conforme Knorr, o frigorífico está no meio de um período de férias coletivas de 30 dias que vai encerrar com o início do arrendamento para a Marfrig. A expectativa dele é que a nova operação permita a utilização de 100% da capacidade instalada da planta e a retomada do nível de emprego verificado há três anos, quando 400 pessoas trabalhavam no local. Hoje restam 200 funcionários, disse. O diretor não deu detalhes sobre os termos do novo negócio e também não revelou o endividamento do Extremo Sul, mas disse que o passivo está sendo "equacionado" e não depende do acordo com a Marfrig. "O arrendamento é uma estratégia para retomar os abates", comentou Knorr.
Para o presidente do Sindicato dos Trabalhadores das Indústrias e Cooperativas de Alimentação de Pelotas (vizinha a Capão do Leão), Lair de Mattos, o arrendamento é "positivo" porque cria novas perspectivas para o Extremo Sul, que "estava inviabilizado". Mas ele afirmou que a "monopolização" do setor "desagrada" à entidade.
Segundo o diretor-executivo do Sindicato das Indústrias de Carne Bovina do Estado (Sicadergs), Zilmar Moussalle, o Rio Grande do Sul está abatendo cerca de 80 mil cabeças de gado por mês, correspondente a apenas 30% da capacidade instalada do setor.
Para fontes do setor, a Marfrig poderá se abastecer de gado do Uruguai, caso tenha dificuldade de compra no Rio Grande do Sul. Segundo elas, a investida da Marfrig é uma forma de marcar posição no mercado num momento em que outros grandes frigoríficos, como a JBS, ampliam o abate por meio de arrendamentos.
(Por Sérgio Bueno, Valor Econômico, 14/07/2009)