Apesar dos efeitos nocivos ao meio ambiente, à saúde dos trabalhadores que os manipulam e de todos nós que os consumimos por meio dos alimentos, os agrotóxicos ainda continuam sendo usados em larga escala, principalmente no agronegócio. Somente no ano passado, o mercado mundial de agrotóxicos teve um lucro líquido de 40 bilhões de dólares. A produção dessas substâncias está concentrada em nove multinacionais, que controlam 90% da produção.
Os dados foram apresentados por Letícia Rodrigues, gerente de avaliação toxicológica da Anvisa, durante o III Seminário Nacional Sobre Agrotóxicos, Saúde e Sociedade, que está sendo realizado em Brasília. Letícia chamou a atenção para o fato de que somente 65 dos 191 países do Globo (reconhecidos pela ONU) são mais ricos do que o mercado de agrotóxicos. “Com esse poder econômico superior ao de muitos países, essas empresas contribuem com campanhas e elegem representantes no Executivo e no Legislativo que defendem seus interesses e dificultam qualquer iniciativa de controle no uso dessas substâncias”.
O Brasil é um dos maiores consumidores de agrotóxicos do mundo. A cultura de soja é a que mais emprega esses produtos, seguida pelo milho, cana e algodão. Em 2008, o mercado brasileiro consumiu 673.862 toneladas desses produtos. Cláudia Schimitt, professora da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ), informou que as lavouras de transgênicos, ao contrário do que as empresas propagavam, aumentaram o consumo dos agrotóxicos.
Maiores empresas produtoras de agrotóxicos
- Syngenta
- Bayer
- Monsanto
- BASF
- Dow AgroSciences
- DuPont
- Nufarm
Equipamento de proteção individual não elimina riscos de intoxicação
Popularmente conhecidos como “defensivos agrícolas”, “veneno”, “remédio” e outras nomenclaturas empregadas de acordo com a região, os agrotóxicos podem provocar intoxicação agudas (aquelas que surgem rapidamente) e subagudas (que aparecem aos poucos). Os principais sintomas são dor de cabeça, dor de estômago e sonolência.
Médicos especializados em saúde do trabalhador afirmam que o uso dos equipamentos de proteção individual (EPI) não impedem o risco de contaminação, e chamaram a atenção para o fato de que a manipulação de agrotóxicos tem causado mortes, abortos, má-formação fetal, câncer, doenças de pele e até depressão com suicídio. A médica Raquel Rigotto, que coordena uma pesquisa na região do Baixo Jaguaripe, no Ceará, afirmou que a população de agricultores pesquisada tem apresentado vários sintomas de intoxicação por esses produtos, largamente empregados na fruticultura de exportação instalada no local nos anos 90.
O seminário está sendo promovido pela Anvisa em parceria com entidades dos movimentos sociais que defendem uma agricultura limpa, e será encerrado amanhã. A diretora de Assuntos Sociais e Cidadania, Raquel Lemos, está representando o SINPAF no evento. O CEA esteve representando no evento pelo especialista em agroecologia, Paulo Costa.
(Sinpaf / CEA, 13/07/2009)