Em 2012 completa um século que o ciclo extrativista da borracha natural alcançou o apogeu no Brasil, com exportações de 37.178 toneladas, e entrou em declínio, deixando para trás Manaus, encravada na selva amazônica, e o suntuoso Teatro Amazonas, inaugurado em 31 de dezembro de 1896. De lá para cá os ingleses levaram para a Ásia mudas da "hevea brasiliensis", a popular seringueira, e o Brasil perdeu importância na produção da borracha natural - que também cedeu espaço para a borracha sintética, derivada do petróleo.
A geografia da borracha natural no Brasil também mudou, e a produção extrativa passou a ser residual. Das 117,6 mil toneladas produzidas em 2008, São Paulo respondeu por 55% e dos quatro Estados responsáveis por mais de 92% da produção total (São Paulo, Mato Grosso, Bahia e Espírito Santo), apenas o Mato Grosso tem parte de seu território em área de floresta amazônica, berço da seringueira. Nas décadas de 70 e 80, o governo federal criou versões de um programa de incentivo ao plantio da borracha natural, o Probor. Nasceu o seringal Pedacinho do Céu, com 10 hectares no município de Silva Jardim, centro-norte do Rio. O plantio foi em 1988, mas a primeira caneca de látex saiu apenas em 2004 e a atividade mais forte na propriedade é a pecuária.
Faltava conhecimento e comprador para a produção, segundo Aldo Bezerra de Oliveira, pesquisador da Empresa de Pesquisa Agropecuária do Estado do Rio de Janeiro (Pesagro-Rio). Oliveira comanda o projeto que visa inserir o Estado entre os beneficiários da difusão da seringueira no país. Em Silva Jardim, Valença (Vale do Paraíba) e Porciúncula, no noroeste fluminense, já está montada a estrutura para disseminar o plantio, com jardins clonais, viveiros de mudas, área de competição de clones (para seleção dos melhores) e plantios privados pioneiros.
Oliveira disse que só depende da agenda das autoridades para assinar um protocolo de intenções entre vários órgãos do Estado, Banco do Brasil, Sebrae e a múlti Michelin para iniciar o programa. A Michelin, que tem na Bahia um centro de pesquisa de clones resistentes à temível praga do mal das folhas (Microcyclus ulei), deverá entrar com assistência técnica, clones e garantia de compra a preço de mercado e sem exigência de exclusividade. Por enquanto, a produção do Estado é vendida para uma empresa de Mirassol, São Paulo.
Após ter erradicado quase metade dos 10 hectares plantados há mais de 20 anos, o Pedacinho do Céu se prepara para plantar outros 10. O Sítio Duas Matas, também em Silva Jardim, além de ter um viveiro com 30 mil mudas, plantou, em maio de 2008, 3 mil seringueiras em seus 8 alqueires mineiro (48,4 mil metros quadrados) e prepara o plantio de outras 3,5 mil mudas.
De acordo com Oliveira, dois outros produtores de Silva Jardim e Porciúncula já plantaram 30 hectares cada. A meta da Pesagro-Rio é alcançar 150 hectares até 2010. A Pesagro-Rio também quer usar a seringueira como planta exótica de mata atlântica no primeiro plantio (válido por 50 anos) de reserva legal, o que depende de um decreto do governo do Estado.
(Por Chico Santos, Valor Econômico, 13/07/2009)