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manguezais desmatamento
2009-07-13

“Antes esse lugar era belíssimo, era uma verdadeira selva de mangue. A chegada das empresas de camarão fez com que perdêssemos 60% da floresta”, lamentou Francisco Vasquez, administrador de um hotel às margens do Oceano Pacífico, no Departamento guatemalteco de Jutiapa. O desmatamento provocou depósito de sedimentos e seu efeito é visível nos animais, porque o manguezal é um santuário de procriação de muitas espécies, como peixes, aves migratórias e mamíferos, disse o hoteleiro ao Terramérica.

Segundo um estudo da Escola de Pensamento Ecologista Savia, nos últimos 50 anos, este país de 108.889 quilômetros quadrados perdeu dois terços da área florestal original e da diversidade biológica que abrigava. Hoje, são perdidos 73 mil hectares anuais de selva. O desaparecimento de florestas reduziu a capacidade natural de regulação do clima, aumentando o risco de deslizamentos. Também foram perdidos ecossistemas, flora e fauna, bem como a capacidade para captar, purificar e armazenar água, alertou a escola ambiental.

A questão do desaparecimento do mangue é uma das mais dramáticas, afirmam ecologistas. “Muitos manguezais foram destruídos por atividades agroindustriais, pelo algodão, pela palma africana, pela atividade camaroneira e, mais recentemente, pela construção de complexos turísticos”, disse ao Terramérica Carlos Salvatierra, da Savia. Esse tipo de floresta, que cresce em zonas costeiras de países tropicais, é um dos ecossistemas mais produtivos do planeta, pela alta quantidade de animais que abriga – aves, mamíferos, moluscos e crustáceos –, importantes para a sobrevivência das comunidades locais, acrescentou.

A emaranhada configuração do mangue faz com que essa árvore atue como uma barreira natural, filtrando a contaminação, impedindo a salinização do solo, evitando a erosão e amortizando os fortes ventos provocados pelos furacões. Apesar desses benefícios, e dos riscos que seu desaparecimento traz, os mangues foram arrasados sem piedade nas costas guatemaltecas. Desde 1950, o país perdeu cerca de 26.500 hectares de manguezais que representam 70% de sua extensão histórica, segundo a Análise Econômica Recurso Marinho Costeiro da Guatemala, realizada pela organização TNC, em 2008.

“Isto tem sérias implicações, como o aumento da vulnerabilidade a fenômenos naturais, como o Furacão Mitch (1998) e a tempestade tropical Stan (2005), bem como a redução de fontes de alimentos”, diz o informe. Mesmo considerando que grande parte das florestas de mangues foi devastada, a Guatemala ainda conta com 17 mil hectares, a maioria no Pacífico, enquanto na América Central subsistem 488.231 hectares. Três espécies de mangue crescem na Guatemala: negro (Avicennia germinans), branco (Languncularia racemosa) e vermelho (Rhizophora mangle). Todos em perigo de extinção, segundo o Conselho Nacional de Áreas Protegidas (Conap).

Para Karen Aguilar, da organização ecológica Fundaeco, o desmatamento continua crescendo e de maneira muito acelerada. “O cultivo de palma africana, bem como o de cana-de-açúcar (destinadas à produção de combustíveis vegetais), provocou o corte de grandes áreas de florestas” em todo o país, disse ao Terramérica. O cultivo de palma africana inclusive se mudou da costa sul, onde atualmente constitui uma ameaça para os mangues, acrescentou a ativista.

Segundo o Instituto Nacional de Estatística, em 2003, havia 49 estabelecimentos dedicados à palma africana, que ocupavam 31.185 hectares. Em 2007, a Pesquisa Agropecuária concluiu que a superfície ocupada por esse cultivo se estendeu para 65.340 hectares, um aumento maior que o dobro em quatro anos. Na cana-de-açúcar operam 14 engenhos, cujas plantações ocupam 216 mil hectares, uma extensão aproximada ao tamanho do Departamento de Guatemala, com 225.300 hectares. Um dos problemas mais graves que esse cultivo apresenta é o uso excessivo de água, que tem impacto nos ecossistemas terrestres e marinho-costeiros, segundo a Savia.

Organizações ambientalistas também alertam para outras formas de eliminação de florestas, como a usurpação de terrenos. “Os casos do Departamento de Petén (norte) e Izabal (nordeste), na utilização de narcofazendas (áreas usadas para a produção de drogas) e na apropriação irregular de terras em reservas naturais são alguns exemplos” que excedem o ambiental e afetam a segurança e a governabilidade, afirmou Aguilar.

O governo estudava um aumento dos orçamentos para o Ministério do Meio Ambiente e Recursos Naturais e do Conap, mas foi cancelado devido à baixa arrecadação tributária. “Cremos que o meio ambiente está na agenda do governo e que há apoio no plano setorial, porém há questões de fundo, como a segurança territorial, que não foram tocadas”, concluiu Aguilar.

(Por Danilo Valladares*, Terramérica / Envolverde, 13/07/2009)

* O autor é correspondente da IPS


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