O misterioso despejo de 1.098 toneladas de lixo provenientes da Inglaterra nos portos de Rio Grande e de Santos (SP), entre fevereiro e maio, poderá ter repercussão internacional. Autoridades gaúchas vão pedir que o Brasil acione a Grã-Bretanha para desvendar o que classificam de crime ambiental.
Procuradora da República em Rio Grande, Anelise Becker enviou ofício à instituição, em Brasília, pedindo que o Ministério das Relações Exteriores aja. O chefe da Delegacia de Polícia Federal no município, João Manoel Vieira Filho, solicitará o apoio da Divisão de Meio Ambiente da PF, em Brasília. A procuradora e o delegado querem colaboração mundial.
– É um caso inédito e complicado – destaca Vieira Filho.
O porto de Rio Grande foi surpreendido com a descoberta de que 40 contêineres continham papéis, plásticos, vidros, tampa de banheiro químico e outros dejetos. Pelos documentos de importação, os contêineres deveriam ter polímeros de etileno, que são aparas de plástico para reciclagem. Atuando há 15 anos no porto de Rio Grande, o inspetor-chefe da Receita Federal, Marco Antônio Medeiros, não havia deparado com fato semelhante.
Vieira Filho investiga se a empresa exportadora da Inglaterra, que enviou a carga, aproveitou-se de um negócio aparentemente legal para descartar lixo inaproveitável no sul do Brasil. O delegado também vai apurar se a empresa gaúcha que importou a carga, a Alfatech, de Bento Gonçalves, está envolvida na operação de transformar o Estado em lixeira dos britânicos.
A advogada da Alfatech, Silvana Werner, garante que a empresa também foi surpreendida. A advogada sustenta que a empresa pagou R$ 200 mil, adiantados, para importar as 1.098 toneladas que seriam de aparas plásticas. Silvana diz que importam polímeros de etileno (tiras e blocos de plástico) da Inglaterra por não encontrar mercadoria semelhante no Brasil apta à reciclagem. O material é transformado em telhas translúcidas. A carga esperada seria mesclada com casca de arroz. A Alfatech diz ter cobrado explicações da exportadora britânica. A advogada ressalta que a empresa, com sete anos no ramo, vai provar inocência e se ressarcir dos prejuízos.
(Por Nilson Mariano, Zero Hora / IHUnisinos, 10/07/2009)