Na nona posição entre as companhias de exploração e produção de petróleo e gás do mundo, a Chevron começou a produzir petróleo no Brasil no campo de Frade mas estuda com cautela os próximos projetos porque não vê uma queda nos preços de equipamentos e serviços da indústria suficiente para iniciar alguns deles. Ali Moshiri, presidente da área de exploração e produção da Chevron para a América Latina e África, explica que os preços podem retardar alguns projetos no Brasil, inclusive o desenvolvimento da produção do campo Papa Terra, operado pela Petrobras na bacia de Campos, que pode ser postergado de 2010 para 2011. Até o momento, a previsão é de que o primeiro óleo de Papa Terra seja produzido em 2012. A Chevron tem participação de 37,5% na área, que tem potencial também de ter reservatórios no pré-sal.
"Esperamos chegar à decisão final de investimento em 2010 mas ela vai depender muito do tipo de oferta que vamos receber das empresas de engenharia e construção de plataformas flutuantes. Se as ofertas estiverem altas há uma boa possibilidade de que a Petrobras e nós resolvamos atrasar o projeto. Até porque não vimos ainda a alteração nos preços de bens e serviços que esperávamos. Se os valores ainda estiverem alto, talvez possamos decidir esperar", diz Moshiri.
O executivo lembrou que o petróleo hoje custa o mesmo que em 2005 - em torno de US$ 60 o barril -, mas os equipamentos não acompanharam a queda verificada a partir do segundo semestre de 2008. A Chevron admite certo declínio nos preços, mas Moshiri diz que eles precisam cair mais, lembrando que alguns proprietários de equipamentos ainda têm contratos em vigor e por isso é possível que não haja uma queda importante até o vencimento deles.
Moshiri citou como exemplo as sondas de perfuração construídas para operar em águas profundas, que mesmo com aluguéis caríssimos tinham desaparecido do mercado e agora já estão disponíveis. "Do ponto de vista do investidor eu diria que hoje há mais disponibilidade e se esperarmos mais um pouco os preços cairão. É uma questão de oferta e demanda", diz.
A Chevron está comemorando esta semana o início da produção de petróleo pesado no campo de Frade, e negocia com a Petrobras os investimentos que serão necessários para produzir petróleo não só no campo Papa Terra como também em Maromba (no qual é sócia da Petrobras com 30%), Atlanta e Oliva. Nos dois últimos, na bacia de Santos, a companhia tem 20% em sociedade com a Shell, que é operadora com 40%, e a Petrobras. Dentre os planos mais imediatos para o Brasil está a busca de reservatório no pré-sal embaixo das áreas que já tem. "Vamos procurar o pré-sal em todos os lugares onde temos blocos. No momento todos estamos interessados no pré-sal, inclusive do Golfo do México e África", explicou Moshiri referindo-se à indústria como um todo.
A Chevron se fundiu com a Texaco em 2000 e vendeu sua distribuidora para o grupo Ultra em 2008. Na época da fusão, acabou saindo de um bloco no pré-sal de Santos, utilizando o sistema chamado "farm-out" na região onde a Petrobras descobriu o reservatório Parati (BM-S-10). A decisão foi tomada para concentrar o foco em projetos no pós-sal, explicou Moshiri.
A respeito das discussões sobre a nova regulamentação para o pré-sal brasileiro, Moshiri disse que não é importante se o regime é de concessão ou partilha. "Se o projeto tiver economicidade pode ser partilha da produção ou taxas e royalty. Para nós está em primeiro lugar a qualidade do bloco exploratório. Em segundo lugar, a transparência do processo licitatório e, em terceiro, o valor a ser criado. O último seria o tipo de contrato".
(Por Cláudia Schüffner, Valor Econômico, 10/07/2009)