Em uma proposta que facilitaria acordos internacionais, pesquisadores de Princeton sugeriram um modelo que utiliza os indivíduos e não as nações como base para determinar metas de redução de gases do efeito estufa
A reunião do G8, que conta também com a presença das principais nações em desenvolvimento, como o Brasil, ocupa as manchetes dos jornais mundiais não por suas grandes decisões, mas por causa do impasse entre ricos e pobres sobre como evitar os piores efeitos das mudanças climáticas.
Liderados pelos Estados Unidos, os países desenvolvidos concordaram em um corte de 80% das emissões de dióxido de carbono (CO2) em 2050, mas a proposta só será assinada se China, Índia e Brasil também aceitarem metas de redução. Porém, isto exigirá muitas negociações, já que estes países argumentam que um corte de emissões significaria a estagnação do seu crescimento econômico.
Talvez o primeiro passo para a solução desse dilema possa ser o novo método de medir as emissões mundiais desenvolvido por pesquisadores da Universidade de Princeton, nos Estados Unidos, que utiliza um principio de equilíbrio baseado nas “responsabilidades comuns, porém diferenciadas” de indivíduos, e não das nações.
O método foi apresentado no artigo “Sharing Global CO2 Emissions Among 1 Billion High Emitters”, algo como “Dividindo as Emissões Globais de CO2 entre 1 bilhão de Grandes Emissores”, publicado nesta semana no periódico Proceedings of the National Academy of Sciences. Entre outras coisas, o método possibilita que os três bilhões de pessoas mais pobres do planeta sigam utilizando combustíveis fósseis sem que isso prejudique o combate ao aquecimento global.
A proposta sugerida por eles é de usar emissões individuais para calcular as responsabilidades das nações no controle dos gases do efeito estufa (GEEs). Atualmente algumas estratégias para medir emissões utilizam o consumo de energia, o que é considerado injusto pelos autores porque disfarçaria as emissões das pessoas mais ricas de um país ao colocar elas juntamente com os pobres.
“Nosso método vai além de considerações per capita para identificar os grandes emissores, que na realidade estão presentes em todos os países”, afirma o time de pesquisadores, que inclui especialistas de diversas disciplinas ligados ao Instituto de Meio Ambiente da Universidade de Princeton, como o físico Shoibal Chakravarty, o economista Massimo Tavoni e os professores Stephen Pacala, de Ecologia e Biologia Evolucionária, e Robert Socolow, de mecânica e engenharia aeroespacial.
“A maior parte das emissões mundiais vem de cidadãos ricos ao redor do mundo, independente de sua nacionalidade”, afirmou Chakravarty. Segundo o pesquisador, as emissões vêm de estilos de vida que incluem viagens de avião, uso de automóveis e aquecimento de grandes residências. “Nós estimamos que em 2008, metade das emissões mundiais foram oriundas de apenas 700 milhões de pessoas.”
Os pesquisadores deram um exemplo de como o modelo funcionaria na prática: se, por exemplo, os governos concordassem que os níveis de emissões em 2030 devessem ser os mesmos de hoje, isso seria alcançado com um teto anual de 11 toneladas de CO2 por indivíduo. Nesse caso, um bilhão de pessoas seriam consideradas grande emissoras, numa população mundial de 8,1 bilhões. Atualmente, os europeus produzem 10 toneladas de CO2 por ano e os americanos, 20.
“Esses números reforçam nossa convicção de que os países industrializados devem tomar a liderança nas discussões para reduzir as emissões, porém a luta contra as mudanças climáticas deve ser de todos”, afirmou Ottmar Edenhofer, especialista em Economia de Mudanças Climáticas da Universidade Técnica de Berlim e membro do Painel Intergovernamental para Mudanças Climáticas (IPCC).
Redução com crescimento econômico
A pesquisa mostra também que é possível combater o aquecimento global ao mesmo tempo em que se reduz a pobreza. Os autores calcularam que permitir que os três bilhões de pessoas mais pobres do mundo satisfaçam sua demanda de energia consumindo combustíveis fósseis, não interferiria nas metas de redução internacionais. O limite para essas pessoas seria mais brando, pois seria compensado por um limite mais rigoroso para os ricos.
Dessa forma, o artigo vem em uma boa hora para quebrar o impasse entre as nações sobre um acordo climático mundial. “Nas próximas décadas, políticas internacionais deverão acomodar as particularidades de países em desenvolvimento, cuja renda per capita disfarça a existência de grandes populações pobres e pequenos grupos muito ricos dentro da mesma nação”, esclareceu Socolow.
Este novo modelo de medição faz parte da Iniciativa de Mitigação de Carbono, baseada na Universidade de Princeton, que tem como objetivo fornecer suporte científico e tecnológico para pesquisas ambientais que resultem em um mundo mais seguro e com soluções efetivas e baratas para as mudanças climáticas.
Os pesquisadores da iniciativa foram também os responsáveis pela criação do conceito de “stabilization wedges”, uma estratégia que propôs maneiras concretas de prevenir o aumento de emissões globais de GEEs nas próximas décadas. Esse conceito foi mostrado com destaque no filme “Uma Verdade Inconveniente” do ex-vice-presidente norte-americano Al Gore.
(Por Fabiano Ávila, CarbonoBrasil, 09/07/2009)