A italiana Ilsa colocou em operação no município de Portão, a 43 quilômetros de Porto Alegre, uma planta para produzir fertilizante orgânico nitrogenado a partir da reciclagem de resíduos de couro cromado fornecidos pelos curtumes e fabricantes de calçados da região. A unidade exigiu investimentos de R$ 10 milhões e tem capacidade para processar 35 mil toneladas de matéria-prima por ano, o suficiente para produzir 20 mil toneladas de adubo no período.
Segundo o diretor de relações institucionais da Ilsa Brasil e presidente do Sindicato das Indústrias de Adubos do Rio Grande do Sul (Siargs), Torvaldo Marzolla Filho, a nova fábrica foi projetada para absorver toda a geração de resíduos do setor coureiro-calçadista do Estado. A planta começou a produzir em junho e está operando a 40% da capacidade instalada, mas já na segunda quinzena deste mês deverá alcançar a faixa de 60%, disse a diretora Viviane Diogo.
De acordo com a executiva, no início a produção será destinada integralmente à exportação para a Itália, já que o produto está em fase de licenciamento pelo Ministério da Agricultura e a liberação para uso no Brasil ainda deve levar um ano e meio. A matriz italiana produz 60 mil toneladas de adubo orgânico e 62 mil toneladas de produto organomineral por ano em duas fábricas, exporta para 31 países e no ano passado teve faturamento de € 23,1 milhões.
A autorização para a venda do produto no Brasil também depende da definição de uma norma específica para a utilização do cromo em fertilizantes, explicou Viviane. De acordo com a diretora, o elemento presente nos resíduos de couro é do tipo trivalente, de aplicação permitida na Europa por ser a forma como ele se apresenta na natureza. Com 14% de nitrogênio em sua composição, o fertilizante produzido pela Ilsa Brasil é vendido por cerca de US$ 250 a tonelada, contra US$ 20 a US$ 25 de outros adubos orgânicos de menor concentração, explicou Marzolla Filho. Em compensação, demanda uma aplicação equivalente a 450 quilos por hectare, ante 20 a 30 toneladas por hectare no caso dos produtos com menor concentração do nutriente, disse o executivo.
Disponível em grânulos ou microgrânulos, o produto também pode ser usado isoladamente ou incluído em formulações com a adição de fósforo e potássio, de acordo com o diretor. Indicado para culturas orgânicas, o adubo libera lentamente o nitrogênio, conforme as necessidades da planta, o que o torna mais vantajoso para aplicação, por exemplo, em lavouras de arroz irrigado, afirmou Marzolla Filho.
(Por Sérgio Bueno, Valor Econômico, 09/07/2009)